segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Robalo com molho de limão. Mais uma para o verão.

Faz tempo que não colocava uma receitinha aqui. Quando não há inspiração é assim, não adianta forçar a barrar que a receita desanda. Das ultimas vezes que vim a BH aconteceram coisas extraordinárias. Eu e minha mãe na cozinha juntos era uma das coisas mais inimagináveis na face da terra. Era mais fácil um negro ser presidente dos EUA que nós dois nos entendêssemos nas panelas. Os paradigmas vão caindo e minha mãe me aceitou dentro dos seus domínios como um parceiro. Isso é um mega orgulho, por que quem a conhece sabe. Ela manda bem demais. Um dia desses de verão aqui em Minas ela me convocou para fazermos um peixinho. Coisa simples como ela gosta de dizer. Acho que para aumentar os aplausos que virão no final. Preparamos um arroz. Da mesma maneira de sempre, só que para variar ela caprichou e antes de colocar a água, no fim da torração do arroz colocou uma pitada de açafrão. Isso fez toda a diferença, depois disso, duas folhinhas de louro que foram cuidadosamente quebradas no meio para liberar toda sua essência e tampa na panela já com a água cobrindo o arroz. O jeito dela fazer o peixe é muito bacana e adotei como meu também. Fazemos no vapor. Colocamos uma panela com água fervente embaixo de um simples escorredor de macarrão com o peixe embrulhado em papel alumínio e seus temperos, que foram alecrim fresco, manjericão, também fresco, pimenta do reino moída na hora e sal. Regue a branca carne do peixe com o melhor azeite e coloque-o deitado no escorredor de macarrão. Deixe por 10 a 15 mim. Vá vigiando sempre. Enquanto isso separe uma coalhada. Isso mesmo uma coalhada. Será ela nossa base para o molho de limão. Raspe a casca de um limão, depois de bem lavado, de maneira bem fina. Coloque as casquinhas, que chamamos de zesto, dentro da coalhada. Esprema o limão raspado e coloque o caldo também na coalhada. Tempere com sal, pimenta do reino moída na hora e coloque alguns grãos de erva doce. Minha mãe não quis que eu colocasse, mas como bom menino desobediente que sempre fui, segui meus instintos. Ficou muito bom. Coloque toda essa mistura em um recipiente que possa ser levado em banho-maria. Faça o banho-maria e vá misturando sempre e acertando o sal. Se precisar corrigir a acidez o truque é o açúcar. Cuidado somente para não virar um iogurte de limão. O açúcar tem que ter a exata porção somente para cortar a acidez. Caso queria, aproveite a água fervente e coloque por lá alguns legumes para acompanhar. Meu favorito nesse caso são os aspargos frescos. Faça um molho bem rápido com mel, limão e gengibre e deixe derramar pelos aspargos delicadamente deixados passados um pouquinho do AL dente. Sirva seus convidados com um belo vinho branco gelado. Depois me contem como foi. Já posso dizer que o Leo Iglesias aqui em casa comeu até não se agüentar.

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Cidades modernas?

Mais uma vez um mundo de oportunidades se abre. Aliás, isso acontece todos os dias quando saímos da cama. Encontrar pessoas e viver novas situações, ou as antigas de maneira diferente. Tudo vale. Estou mais uma vez de mudança. Será a quarta cidade em três anos. Quando estava em Minas, com o belo horizonte restrito, tinha o desejo enorme de ir pro mundo. Agora, quero achar um pouso, um porto, que seja ele feliz.
Nessas minhas andanças pelo país, estive em Campo Grande, Brasília e agora Porto Alegre, minha nova casa. Como todo bom canceriano levo minha casa junto comigo. Não digo das coisas materiais somente, mas também do jeito de levar a vida, de ver a cidade e de estar realmente onde se está.
Outro dia, li uma reportagem sobre mais um aniversário de Brasília, com todos aqueles conceitos modernos de Niemeyer e Lucio Costa. Senti falta de uma coisa. Gente. Quando morei em Brasília, pude realmente perceber toda essa modernidade. Planejamento executado à risca, retas sem intercessões, curvas realmente lineares. Céu azul ornado com traço do arquiteto. Tudo isso muito bacana. Mas e as pessoas. Andei por Brasília e quase não via gente nas ruas. E rapidamente entendi. As ruas não são feitas para receber as pessoas em Brasília, mas sim carros. Desculpem-me meus dois grandes arquitetos citados acima, mas ser moderno é pensar no futuro. Vim de Belo Horizonte. Sou mineiro, daqueles temperados com ferro. Vivi em Campo Grande um período da minha vida. Depois Brasília. O que essas três cidades têm em comum além de estarem sempre presentes no meu coração? Foram planejadas. BH e Campo Grande têm quase a mesma idade. Tiveram destinos diferentes. A capital de Minas foi construída para ser a nova capital de um estado industrial, recém saído da fase agrícola. Campo Grande, para ser um pólo ao sul da capital do então único estado do grande Mato Grosso. Mas em comum, as duas cidades possuem a ordenação como construção. O Positivismo. BH teve um destino diferente. Nasceu grande e logo nos seus primeiros anos rompeu a barreira do seu contorno. Campo Grande nasceu para viver à sombra de Cuiabá. Com isso as duas cidades tiveram destinos diferentes. BH cresceu muito e se tornou uma das principais metrópoles do país. Campo Grande, somente a menos de trinta anos conseguiu status de capital. Isso trouxe desenvolvimento acelerado e problemas demais para uma, e falta de desenvolvimento e preservação da qualidade de vida para outra. Mas em comum, são cidades que foram construídas para serem modernas. Conseguiram, ao contrário de Brasília, serem mais modernas que a Novacap, na medida em que preservam as relações humanas. A arte do encontro. Nessas duas cidades nos esbarramos em pessoas, não marcamos encontros, mas nos encontramos nas esquinas informais. Brasília privilegia que carros ocupem o lugar das pessoas. Como pode uma cidade dita moderna não se preocupar com a integração humana. Ser moderno é saber conviver, com diferenças e com os seus. As cidades têm esse papel fundamental. Integrar sem se programar. Integrar para conviver e viver bem. Isso é modernidade. A convivência humana. Desculpem-me os grandes pensadores da Novacap, mas privilegiar o ser humano é ser moderno. A capital das Gerais e a estrela do Mato Grosso do Sul, apesar de seus inúmeros problemas conseguiram essa façanha.

terça-feira, 16 de dezembro de 2008

Poema do amor torto.

Por favor, não me queira mais. Não volte mais para mim. Prefiro que seja assim por que o amor que tenho pra te dar não te cabe. Você quer um amor que não posso te dar. Um amor perfeito, sem erros, como amores de novela. Bem ao estilo folhetim. Amor com jeito de conto de fadas. Esse tipo não é o meu. Desculpe, mas sou mais o sapo. Amo com o coração, de corpo e alma. Meu amor é despenteado. Meu amor é daqueles imperfeitos, cheio de altos e baixos, colorido por temores e inseguranças. Meu amor tem dias chuvosos de trovoadas. Uns dias de garoa e outros com sol. Meu amor se faz à tarde, tarde. Mas antes tarde. Meu amor arde. Meu amor caminha a passos consistentes, num ritmo compassado que cresce assim como avança estrada adentro. Meu amor é daqueles que você percebe a intensidade nas minhas faltas e nos meus rompantes. Aliás, faltas não faltam no meu amor. Meu amor é cheio de erros e enganos. Por favor, não volte para mim se o amor que você procura não tem defeitos. Meu amor segue a batida do coração, com dor, com piedade, com afeto, com carinho, mas acima de tudo com verdade. Não volte mais para mim. Quero ter a tranqüilidade de amar com calma, sem vigiar as ações que tomo. Quero viver um amor que me permita pedir perdão. Perdão de menino travesso que desobedeceu a mãe. O que eu tenho para dar são somente os meus sentimentos impuros. Mas seriam seus se os quisesse. Seriam todos seus e somente seus. Meu ciúme, meus carinhos, meu amor e meus egoísmos. Seriam todos seus. Meu amor é assim como esse poema. Sem estrofes, rimas e perfeições da academia. Mas se aprende a amar na escola?
Quem procura o amor como quem procura uma tábua de salvação não encontra o amor no coração. Para amar com verdade tem que se doar sem vigiar. Tendo o amor como norte se tem a vida nas na balança. Às vezes mais pendente que equilibrada, mas sempre com verdade nos pesos.

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

O ser mulher.

Sabe que tenho me tornado meio folgado com os temas das letras? Folgado no sentido mineiro quer dizer possuir um ar de arrogância, prepotência. Ando passeando por temas bastante polêmicos. Tudo começou quando minha querida amiga Natália me incentivou a escrever a crônica dos 100 anos do glorioso Galo. Futebol é coisa pra profissional, não pra amador como eu. Mas como tenho recebido alguns elogios sinceros me arrisco em mais um tema polêmico. As mulheres. Mas as mulheres no sentido da discussão que seu novo papel tem tido nas próprias vidas e na vida de nós homens. Confesso que analisar uma revolução enquanto ela acontece varia entre o achismo e as suposições. No máximo com chutes mais ou menos certeiros que saem como tiros pela culatra. Como nesse caso o que penso ser é mais um capítulo da revolução sexual dos anos 60, sigamos em frente. As mulheres representam um papel bastante importante na minha vida. Começando pela minha mãe, minhas irmãs, são três lindas meninas, além é claro das minhas ex-namoradas, que já discorri sobre elas longamente por aqui. Mas também tenho várias amigas, e amigas de coração, amigas mulheres que são realmente somente amigas. Umas que nasceram amigas, outras foram se tornando assim. O que mais ouço delas é que nós homens não sabemos o que queremos. E não sabemos mesmo. Aceitemos, não sabemos. Não sabemos inclusive lidar com essa mulher que se apresenta hoje. Independente, forte, liberal, liberada e decidida. Essa nova ordem mundial muda toda a perspectiva do relacionamento homem - mulher. O homem, antigo provedor e caçador, perdeu seu papel. Qual é o nosso agora? E a mulher, que ocupava a prateleira da fragilidade e necessitava de cuidados e carinhos? Enfrenta tripla jornada e ainda por cima está sempre linda e longe de qualquer fracasso. Pois, um erro desencadeia a já desgastada e preconceituosa frase: perdoa, é mulher! Hoje elas sustem a casa, saem atrás do marido, nos cantam nos bares. Cuidam dos filhos e ainda são nossas chefes.Onde elas se encaixam agora?
Encontro por ai uma enorme quantidade de mulheres interessantes, bonitas, independentes, boas profissionais e solteiras. Como isso pode ser? Acho que isso é culpa dos homens que não têm acompanhado com a mesma velocidade essa revolução e está nesse navio somente como passageiro, sem estar no leme ao lado de quem está dando as cartas. Certa vez me peguei bravo dizendo: essas mulheres que choram depois de terem conquistado o mundo não percebem que o mais importante elas já fizeram. Chorar por que não têm alguém? Isso para mim era covardia. Inveja minha frente às mulheres. Elas conseguem além de tudo, perceber que cada uma das necessidades ocupa seu lugar. Não há necessidade de o trabalho tomar o lugar do lazer, do amor e do prazer, como nós homens fazemos inúmeras vezes. Nós homens quando conquistamos uma posição de destaque profissional desencadeia-se uma serie de eventos que nos deixam felizes emocionalmente, mais seguros sexualmente e por ai vai. A mulher ao contrário sabe que a conquista profissional é aderente àquele tema e nada tem haver coma vida em família, por exemplo. Para nós homens, e para vocês mulheres fica a pergunta: qual o papel que cada um possui a partir de agora. As mulheres agora ficam, namoram, casam-se conosco por que querem, não mais por que precisam. Para nós homens, isso é muito incipiente. Os sentimentos no mundo masculino tendem ser tratados como coisa de viadinho. Para nós é um grande medo perceber que uma mulher está interessada em nós pelo que somos, e não pelo que temos ou pelo que possamos prover. Fica a provocação. Será que essa nova mulher está nos fazendo enxergar como somos, e não temos gostado muito que tem saído de dentro desse armário? Essa agora para as mulheres: vocês estão preparadas para lidar com esse homem mais sentimental? Não vão nos achar delicados demais e sentir falta do brucutu que se esconde em cada um de nós?
A jornalista Martha Medeiros escreveu sobre esse tema com muita propriedade na sua coluna no Zero Hora. Dizia ela que independência significa escolha e escolher ficar com o homem que ama. Finalizou dizendo que as mulheres têm dito menos “eu preciso de você” ao passo que “eu amo você” nunca foi tão sincero. Concordo com ela. Precisamos nos preparar para acreditar nessa verdade.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2008

Os tempos.

Acho que inspirado por Érico Veríssimo, meu vizinho, a rua ao lado é uma homenagem a ele, decidi escrever sobre o tempo. Essa coisa, coisa mesmo, tão abstrata para nós e tão natural ao mesmo tempo. Não falo das marcações das horas, do dia que nasce, nem da sensação de impotência quando estamos presos no trânsito e os ponteiros teimam em correr. Digo do tempo das pessoas. Para os mais desavisados, não se trata também de um discurso do nascimento e da morte, mas do tempo que carregamos dentro de nós. Independentes da idade que possuímos sempre os tempos são sempre diferentes, para uns e para outros. Quando essa diferença aparece? Essa pergunta é tão importante quanto saber o dia da nossa morte. Acho que o mais importante é saber lidar com as diferenças quando elas aparecerem. Saber esperar, ou acelerar o passo. Qual é a sua hora, seu momento? Isso não importa. Importa que se ajustem os ponteiros do relógio. Saber esperar. Respeitar o tempo de quem ainda não chegou ao mesmo tempo em que o seu. Ajustar os ponteiros do relógio. Faça as horas dar a volta depois dos 60 minutos. Se precisar, dêem mais corda. Tirem a pilha, mas não deixem o tempo marcar compasso. Saiba que podemos fazer nosso tempo. Podemos, basta encontrar o motivo. Adiantar ou esperar, não importa quando o motivo é justo. Às vezes encontramos as pessoas certas no tempo errado. É preciso ajustar esse relógio, por mais doloroso que seja, pois, dolorosa será a dor da perda quando percebermos perdemos alguém especial desse descompasso. Einstein no seu famoso tratado sobre a relatividade usa o tempo como base para a metáfora que descreve como somos relativistas. Mais pensador que físico nesse caso, ele está mais uma vez correto quando diz que mais vale envelhecer e viver na plenitude dos fracassos e sucessos do que economizar os anos e não ter tido experiências de vida. E como a vivência é mais importante que a economia de tempo. Prefiram viver! Usem o tempo um com o outro. Não o gastem, mas o usem bem. É um recurso não renovável e não reciclável. Uma vez passado, não volta mais.
Para minha querida e amada middle sister, Nora.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Misturas Finas

Como bom brasileiro que sou, genuíno, da gema, com todas as descendências que formaram esse povo no meu sangue, sempre gostei de misturar as coisas, as cores e as formas. Os sons e palavras. Tudo cresce tudo se enriquece com as diferenças. Tem gente muito interessante que já vem fazendo isso a mais de 50 anos na música. Percebem como funciona bem a mistura de cítara indiana com guitarra e bateria? Pois é, Harrison fez isso. E atrás dele um monte de gente vem fazendo. Outro dia num concerto em Brasília o maestro misturou os instrumentos da sinfônica com uma zabumba! Essa eu achei que não daria certo. Mas pra minha surpresa, parece que nasceram um pro outro. A própria zabumba é mistura nela mesma. Duas peles com afinações diferentes. Uma pra marcação e outra pra evolução. Uma parecida com bumbo, outra com taral. Genial. Toda vez que eu for há um concerto procurarei a zabumba na percussão. A música se apropria muito bem dessas misturas e sempre sai ganhando. Rap com samba e chorinho. Rock com maracatu, essa causou além de uma revolução musical no Brasil, uma discussão muito boa entre Ariano Suassuna e Chico Science. Peço desculpas ao grande Ariano, mas fico ao lado do Chico. O rock trás à luz a magnitude do maracatu. Às vezes precisamos da escuridão para enxergar a luz. Os contrates ressaltam as qualidades. Na música é assim, na culinária também. Feita por excelência uma grande mistura, essa sim precisa obrigatoriamente misturar as diferenças pra ir em frente e continuar surpreendendo. Já pensaram que mistura mais louca o arroz com feijão? Deu tão certo que um não anda mais sem o outro. Muito comum? Tudo bem. Resolvi enveredar pela procura das misturas e sair do rumo. Outro dia tomei um sorvete frito. Exatamente, uma bola de sorvete, gelado, de baunilha, só que frito. Perfeito! Nem as casquinhas, nem os confeites e caldas caem melhor num sorvete que a passagem panela quente. Um dia conto como se faz. As misturas na culinária são famosas. Agridoce, salgado com doce, espumas com crocantes, e sempre surpresas são descobertas no céu da boca. Uma após a outra, ou todas juntas. E o melhor, separadas são boas, juntas melhor ainda. E quando isso acontece vem o terceiro sabor, que é próprio dessa mistura. Existem as mais famosas. Goiabada com queijo, clássica. Purê de batata doce, com pimenta do reino e noz-moscada. Essa trás uma pergunta: o que tem aqui? Existem algumas misturas que nos fazem descobrir cada sabor de maneira diferente, e a cada passo da descoberta é uma grande surpresa. Já experimentaram mel com damascos e limão numa salada de alfaces, tomates e castanhas de caju? Somente um cuidado, as misturas culinárias têm a dose certa, se passar demais dá errado. Essa é a vantagem que temos em misturar as diferenças culturais. Misturar as culturas e as diferenças não tem limites. Dentro de uma mesma cidade existem possibilidades de experiências culturais que se experimentadas sem moderação causam surpresas e enriquecimento muito grande. Um dia, conversando com um amigo biólogo me disse do auto da sua sapiência e visão gélida e cientificista da coisa: quando se misturam as diferentes classes o do mais alto escalão se sente mais à vontade do que o do baixo clero! Discordo! Não existe essa. As pessoas são somente formadas por situações e condições diferentes. Percebem o mundo a partir do seu próprio. E assim constroem sua visão e suas alterações na sociedade. São somente visões e percepções distintas de realidades próximas. Afinal somos feitos do mesmo carbono meu caro biólogo. Somos todos poeiras de estrelas. Misturar as culturas dentro do mesmo país são formas de auto-afirmação delas próprias bem como integração com as outras. Por exemplo, o chimarrão tomado em Brasília no Parque da Cidade, aquele da Mônica de moto e o Eduardo de camelo, é uma delas. Aliás, essa música é o retrato fiel do que digo aqui. Que as misturas de dois mundos são as formas mais ricas de se crescer. Buscar na diferença o que lhe falta. Basta querer somar essa diferença à sua vida. Eu já misturei a cultura e o jeito mineiro de ser, que carrego pra onde vou, em vários lugares. Uns mais afeitos às misturas, outros nem tanto. Mas hoje posso dizer que sou um pouco mais gaucho, mais sul-mato-grossense, mais brasiliense, mais mineiro, brasileiro, mas acima de tudo, mais humanista. Tomo um teras no calor, um chimas no frio. Estaciono na quadra, subo a Bahia e desço a Floresta.

sábado, 29 de novembro de 2008

Tudo novo de novo.

Cheguei até aqui. Andei por esse caminho. Tortuoso caminho. Pedaço de longo chão sozinho. Mas cheguei até a encruzilhada. A escolha está aqui, bem na minha frente. Não sei o que vai dar em nenhuma delas. Mas estou pronto para decidir. Titubeio entre a direita e a esquerda. Às vezes quero seguir o caminho certo, o correto, o direito. Nada mais que normal em seguir à direita nesse caso. Mas meu lado Drummond me faz querer ser gauche na vida. Aí, a esquerda fala mais alto. Afinal, as melhores esquerdas, são as esquerdas... Somente quem sabe o frio na barriga que uma esquerda dá sabe como ela é. Não é a toa que a perna canhota do jogador de futebol é mais valorizada que a destra. Que a mulher canhota fascina mais que a outra. Isso tudo é um lapso que se passa na minha cabeça antes de decidir se vou à direita ou à esquerda. O engraçado é que será sempre a mesma pergunta independente do caminho que tome: - o que teria acontecido se eu tivesse virado a outra esquina. Nunca se vai saber. Mas não importa. O importante é tomar a direção. Ser minha a decisão e não ficar à mercê. O caminho, quando tomado não tem volta. Não podemos engatar a ré ou procurar um retorno. Nessa estrada o caminho é de mão única. A aposta é alta e a vida é curta.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Eu acredito em gente!

Descobri isso faz um tempo. Eu acredito em gente. Gente viva, gente boa. Tem gente que acredita em duende, que Jesus voltará. Tem gente que acredita que ele nem veio! Eu acredito em gente. E mais, acredito que gente é pra brilhar e não pra morrer de fome, bala perdida, bêbados equilibristas atrás do volante e essas coisas que a cada dia nos choca menos. Sinto-me perplexo quando vejo no jornal que mais uma pessoa morreu em confronto com a polícia nos morros. A reportagem começa como um obituário, pesada, em marcha fúnebre pela tela. Mas quando iríamos nos somar a indignação do repórter ele justifica sua frieza: “a polícia acredita ser mais um traficante”. Isso me deixa ainda mais perplexo! Parece que se for para matar traficantes e bandidos tá tudo liberado! E nossa consciência moral aceita e trata isso como natural. Nada mais que um risco social a menos. Esse tipo de comportamento me deixa deverás preocupado. Está nas entrelinhas dessas ações que se você comete crimes é julgado severamente pela polícia, sem possibilidade de defesa e com a anuência da sociedade. Percebo que esses parâmetros são muito frágeis e podem ser mutáveis muito facilmente. Daqui a um tempo, de acordo com a ordem social vigente será assim: uma pessoa é morta pela polícia, mas era um desempregado, sem problemas. Outra é morta na porta de casa, mas era pobre, menos problema ainda: - Melhor para o coitado que está num lugar melhor. Outra, atravessando a esquina, mas não havia olhado o sinal. Quem mandou não olhar para quem via por ali? Então assim estamos justificados e quites com nossa consciência. Caetano já profetizava nos anos 70, gente é pra brilhar e eu concordo com ele.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O rock finalmente envelheceu.

Numa noite linda dessas aqui do sul resolvi que iria num grande show de rock! Cara, uma semana se preparando, afinal de contas era uma mega banda de rock americana. Showzaço na certa! Contagem regressiva quando comprei o ingresso. Os dias iam passando, a semana rolando, mais um fim de semana, o mundo no seu compasso, a não ser por um presidente negro eleito na mesma terra dessa famosa banda de rock.
Dia do show. Tudo preparado. Um “esquenta” na casa de uma amiga. Alguns amigos reunidos e trajados para a ocasião. Calça jeans e um tênis velho. Uma camiseta e o espírito do bom e velho rock n’roll estava de volta. Chegamos ao estádio em cima da hora do show. Nos arrumamos num canto que dava pra ver a pontinha do palco e ficamos lá esticando o pescoço. Num desses descansos pro pescoço e olhei a volta. Comecei a perceber que o rock realmente tinha envelhecido. Não somente pelo público ali presente, mas comecei a perceber que o rock era pano de fundo para alguns sentimentos que hoje estão bem desgastados como as velhas calças jeans. No palco, manifestações políticas com a exibição orgulhosa de Obama feito presidente. Na platéia, alguns dedos em riste com sinal de paz e amor. Meninas nos ombros dos namorados, camisetas com dizeres políticos pragmáticos, beijos apaixonados no público. O cheiro da velha droga do rock inebriava o ar gelado da noite gaúcha, mas a maior presença era de uma aura de esperança e boa venturança no ar. Sentia que a cada acorde da velha formação, baixo, batera e guitarra as pessoas se comungavam num sentimento puro, os mesmos que se presenciava nos movimentos hippies de 50 anos atrás. Cabelos grisalhos e vozes roucas, no palco e na platéia, ascendiam as letras recheados de sentido que ecoavam pelo velho estádio de futebol. Percebi como esses sentimentos caíram em desuso. O bom e puro amor pelo outro deu lugar ao que vivemos hoje. São anseios antigos que ficaram pra trás. Entendi o verso de outra banda de rock, essa brasileira “...saudade de tudo que ainda não vi”.

sábado, 1 de novembro de 2008

Azul e vermelho

O verão traz além do calor a sensação de liberdade, liberalidade. Eu particularmente gosto do verão pelo sol, calor, o bom humor das pessoas, e claro da liberalidade. As mulheres são particularmente belas nessa época. É a primavera dos humanos. Os cheiros, as formas, as insinuações, as formas, novamente, as cores. Tudo se mostra novo de novo.

Certo verão, descobri por que se apaixonar e se desencantar tem a mesma medida. Imagine você, uma bela, de pele branca, clara como o sol, com os cabelos ruivos e de belos cachos, num belo vestido vermelho. Por favor, nada que faça menção àquele clichê dos anos oitenta, e, que por sua vez lembra a cena de Marilyn dos anos 60, até por que as ruivas nunca são modismo. Se apaixonar assim seria fácil, coração vazio, com sede de novos ares. Ela chegou insolente, dona do meu pequeno mundo e se instalou de vez. Quase menina, jeito de Lolita. Isso mexe com a gente rapaz! O coração embarcou de vez. Parece que tinha achado o que sempre procurava. Afinal toda paixão é assim. Engana até o mais sapiente.

No início, se ama como nunca. Como Vinícius sempre amou. Você acha que ela é sua Garota de Ipanema. E é. Vive-se na plenitude. Há entrega, compromisso, paixão, fulgor, e desejo que não tem mais fim. Ama-se na plenitude. Também, naquele vestido vermelho quem pode contra? Perde-se a cabeça veementemente, acha-se com verdade o coração. Que se confunde com o vermelho do vestido.

Na mesma medida em que vem o fulgor da paixão, ele se esvai quando há o terrível pedido do compromisso com o cotidiano. A paixão se torna obrigação, o amor em torpor e mais tarde, se tudo conspirar a favor, ou nesse caso contra, a dor.

Vivíamos mesmo um amor delicioso, daqueles gostosos, de verdade, com paixão, desejo, necessidade e vontade titânicos. Mas então ela resolve, em um simples ato, tomar conta das minhas pequenas, mas minhas intimidades.

Fraqueza minha, não sei magoar, nem dizer não, sem machucar. Foi ficando, se instalou. Confesso. No começo era coisa nova, coisa boa, que até então não experimentara. Mas foi ficando. Eu chegava em casa, depois de ouvir o danado do chefe na repartição e ela já estava lá. Não queria aquela lá, queria a outra de outrora, que era a namorada de vestido vermelho. O encanto parece que desbotara. Já não era mais vermelho.

Certo dia depois da repartição abri o armário de casa. E com quem me encontro marcando meus surrados paletós? O vestido vermelho. O encanto se foi, e no lugar dele o território marcado para dizer que aqui, além dos meus trapos, somente cabe um único vestido. O vermelho. Senti-me invadido. Como pode uma coisa dessas meu amigo? Um vestido e ainda por cima vermelho no meio dos meus trapos? Que isso camarada! Sou mineiro, daqueles da roça, que prefere caminhar léguas pra se chegar à venda do Nho ao invés de ir no lombo de mula que num se conhece. Imagina? Eu com uma dona na minha casa? E meus camaradas? O que iriam dizer? Ah não! Comigo ia ser diferente. Aqueles lá se entregaram às suas. Eu não. Estava decidido.

Pra minha sorte, por que meu santo não me abandona e, forte ele é muito, tinha a dona uma viagem. Até ajudei na passagem. E disse: até a volta meu anjo, te espero. Ela foi. Eu achei até que esperaria no início. Mas aí, no meu caminho tinha um vestido azul. Ai você já viu né camarada. Um vestido azul acompanhado de belos cabelos longos e finos de cor negra num há cristão, mulçumano, árabe, judeu, ateu que resista. E ai, no mesmo verão, tudo novo de novo. Só que agora tem um vestido azul no meio dos meus trapos. Onde já se viu uma coisa dessas meu camarada?

domingo, 26 de outubro de 2008

Risoto de camarões com laranja

Novos ventos e rumos do sul. O frio deu lugar à luz e ao calor. As coisas começam a se encaixar, os pingos nos is e nos jotas. O primeiro prato da casa nova é uma ode ao verão. Engraçado isso né? O Verão no sul. Achei que seria frio sempre. Mas nada é para sempre. Bom, risoto de camarões com laranja é um prato leve que trás a cara da nova estação. Leve, colorida e saborosa. Sabores bem distintos que se misturam e convivem em harmonia.
Receita:
Arroz arbóreo 2 xícaras bem generosas.
300 gramas de camarões médios limpos e sem cascas.
Faça o fundo do risoto da seguinte maneira: corte duas cenouras inteiras em rodelas, um ramo de alecrim fresco, 6 dentes de alho, duas cebolas cortadas em cruz, tempero de caldo de galinha, ou legumes, em pó. Deixe ferver. Enquanto isso frite o seu arroz, sem lavar, no azeite de oliva. Quando os grãos criarem uma pequena marca branca no meio coloque um cálice de vinho branco seco. Dica, nunca use na panela um vinho que não beberia. Deixe o álcool evaporar. Comece a regar o arroz com o caldo, somente o caldo do fundo de legumes que fizemos. O segredo do risoto é o ponto. Trabalhe o ponto do arroz como goste. Eu prefiro bem cozido. Não sou fã das massas AL dente. Bom, vá regando seu risoto e mexendo sempre. Vamos fazer o suco de duas laranjas, coe e reserve. Iremos reduzir o suco e finalizar o risoto com ele. Reduzir é levar ao fogo baixo e fazer com que ele engrosse, ou no caso do suco concentre o sabor com a evaporação da água. Corte em fatias finas o parmesão. Não compre ralado. São sempre as sobras dos queijos. Queijo fresco é sempre melhor. E o parmesão tem um óleo que sempre realça o sabor. Então compre um pedaço generoso de parmesão e corte-o em fatias finas. Pegue os camarões limpos sem tempero algum, e de uma puxada no azeite. Como fazer isso? Azeite quente numa frigideira e passe os camarões. No máximo por um minuto e meio. Retire-os da panela. Coloque os no arroz. Depois que o risoto atingir o ponto que deseja desligue a panela e vamos finalizar com o seguinte: o caldo de laranja reduzido. Mexa para se misturar ao arroz. Depois pegue o queijo e coloque no risoto. Mexa para derreter. Depois, coloque uma colher de manteiga para que traga o brilho do risoto. Para apresentação do prato corte fatias finas de laranja e decore o prato com meias fatias e com ramos de alecrim. Deixe o azeite à mão dos seus convidados. Aproveite para o verão. Sirva com um champagne gelado ou um bom chardonay branco.
Parece sofisticado né? Mas sabiam que o risoto, a paella e a feijoada tem o mesmo fundamento? São sobras de comidas que as pessoas começaram a aproveitar. Em épocas de crises sempre temos que nos recriar e humanidade é cheia desses momentos. Os meus ancestrais negros escravos nos deram a feijoada. Deliciosa e caríssima em restaurantes de todo o país. Os meus ancestrais Italianos nos deram essa mistura de massa com frutos do mar e legumes da região. Assim, as misturas sempre somam na nossa vida. Misture as laranjas com camarões e arroz e chame amigos de turmas diferentes que nunca se viram e divirtam-se!!! Quem sabe de um almoços desses num sai um casamento entre seus amigos solitários?

domingo, 19 de outubro de 2008

Um novo fim para um velho começo.

Sabia que um dia esse pensamento iria me assombrar. Será mesmo que quero esquecê-la. Será que quero que ela saia de vez da minha vida. Sem memórias, nem lembranças. Apenas os momentos das fotografias amareladas. Existe um sentimento maior que o querer. Chama-se necessidade. Precisamos seguir em frente, caminhar, fazer o mundo evoluir e seguir com ele. Ficar parado no tempo, vendo a banda passar, e ficar na janela não faz bem. Queremos sempre fazer parte da banda, tocar ao nosso ritmo e seguir a marcha. Ver a vida passar ao largo não faz bem a quem já foi maestro. Mas uma verdade nesse caso é absoluta, para começar de novo tem que se terminar o velho. E finalizar com um novo fim para recomeçar do velho jeito. Chamo de velho jeito essa forma de se preparar para se entregar novamente. É necessário que se esteja inteiro, com os pedaços colados, com os tais caquinhos do velho mundo desabado nos seus devidos lugares. Mas para isso outra pergunta: Posso sair em busca desse novo mundo? Posso me lançar nesse mar de tempestades e calmarias e aportar seguro em outro lugar? Essa é uma viagem sem volta. Fecha-se uma porta e outra não se abre. Dessa vez entra luz pela janela.

terça-feira, 14 de outubro de 2008

Eu te amo não é bom dia.

Um dia desses estava eu numa das ruas lotadas do centro da cidade. Com o bolso e cabeça cheios de coisas sem valor. Parei numa dessas ilhas pra desanuviar a mente. Posso chamar as bancas de jornal de ilhas por que me remetem ao passado. Do cheiro do jornal, da conversa com o vendedor já seu velho conhecido. Da continuidade da mesma prosa de ontem. Enfim, parei numa dessas e vi dentre as várias capas de revistas com seus apelos expostos uma que me chamou atenção. Dizia assim, ao lado da bela moça ruiva sardentinha seminua: - Eu te amo não é bom dia. Achei aquilo muito oportuno e não tive dúvidas, comprei a revista. Esvaziei um pouco os bolsos que tanto me pesavam o tilintar das moedas e em troca esperava que enchesse a alma. Quem sabe ali naquelas páginas eu me salvasse. Quem sabe tinha realmente encontrado naquela ilha o alimento que me faltou em todos esses tempos. Foliei algumas paginas bem apressadamente a fim de chegar à entrevista da moça sardentinha que dizia que dizer eu te amo não é como dar bom dia. Moça de belas formas. Bela como uma menina e uma mulher podem ser. Belas formas. Linda boca. Bela moça de ser vista. Como todas as moças das revistas. Me perdi um pouco naquelas curvas, mas fui ler o que ela dizia. Esperava encontrar respostas dentro daquelas páginas que nunca havia me permitido questionar. E que coisa mais interessante, achar numa banca de revista uma resposta tão profunda e tão densa quanto um amor viceral. Fui com olhos ávidos e mente aberta. Fui descobrir onde aquilo iria parar. E parou. Ali mesmo. No titulo. Um breve comentário e nada mais. Vendedores de revistas! Vocês ainda me pagam. Ou me ensinam a fazer títulos.

A bela sardentinha me permita continuar. Eu te amo não é bom dia mesmo. Quando o amor florece, nem apresenta sinais que virá, mas chega e se instala. Num rompante. Quando se vê, você está amando. O amor vem da alma, é sentimento nobre. O maior que existe. Todos os outros são baseados no amor. Deus ama. É o sentimento de Deus. O amor verdadeiro quando nasce dói. E não se vai de vez. Quem ama de verdade percebe que a medida em que o amor cresce carrega junto uma pequena marca. Imperceptivel quando se está amando. Mas quando o objeto do amor se vai, percebe-se o tamanho da cicatriz que carrega. Isso porque o amor é viceral. Além disso, o amor é próprio do ser. O ato de amar é um movimento solitário. É proprio de quem sente. Quando se ama não se preocupa em receber o mesmo de volta. Por que amar é um ato voluntário. Não se espera nada em troca quando se ama. Amar é se doar. Se doar sem fronteiras e sem esperas. Quando se ama assim, creio, que atingimos algo próximo ao divino.

Poucos têm coragem de viver um amor assim. Tem que ser abnegado. Abnegado como o héroi clássico. Quando se ama sabe-se que terá um bom dia somente de receber o olhar da amada ao amanhecer. Amar passa por velar o sono do amado e ver como ele adormece doce nos seus braços depois do amor. É velar o sono da amada, deixar que ela acorde depois de você, para que você veja como ela é linda ao acordar. Amar são essas pequenas coisas. Ver a vida com os olhos do outro e mostrar a ele o que a vida tem bela aos seus. Amar é um presente os céus. É o bônus pelo nosso sofrido ônus aqui na terra. Quando se ama profundamente tem-se a sensação de fazer parte do infinito, da cumplicidade dos anjos. É realmente poder viver na sua plenitude. Amar é descobrir qual o sentido da nossa passagem nessa terra. Por que estamos aqui nesse instante. Amar é descobrir as respostas com a cumplicidade do olhar. Sem a presença das palavras. Sem explicações das palavras difíceis e dos conceitos filosóficos abstratos. O amor é simples. Amar é se doar, sem dor e sem pudor. Amar é viver sem reservas.

sexta-feira, 19 de setembro de 2008

A menina que roubou o assalto.

Paulinha era daquelas que costumamos chamar de lindinhas. Com belas formas e muito charme naqueles metro e cinqüenta e poucos. Tipinho mingon. Como podia caber tanto ali? Como a maioria desses bibelôs, ela era meio sem jeito pra algumas coisas, meio distraída com outras e por causa desse jeitinho assim meio displicente ela ficava ainda mais charmosa. Afinal, me perdoe Vinicius, mas charme é mais fundamental que beleza.
Num dia desses de virada de tempo, quando amanhece e dizemos com absoluta certeza que a menina do tempo está errada e não vai chover hoje, ela, como não podia deixar de ser, teimou e foi apanhada por um temporal ao voltar da escola. Como naquele tempo toda colegial vestia sainha azul marinho plissada com tamanho no meio das coxas e uma blusinha fininha de cor branca, podem imaginar o que aconteceu. Ela saiu correndo para não ser pega pela chuva, mas não adiantou. Chegou ao ponto de ônibus ensopada. Preocupada com seu estado ela logo providenciou os cadernos na frente do peito. Só depois de um breve tempo ela percebeu que ali estava um amigo. Sorte, ou não, por que ser vista assim daquele jeito podia causar uns comentários na escola. Mas não quis pensar nisso àquela hora, preferiu pedir ao amigo que lhe emprestasse uns trocados para o ônibus. Ele dizia ríspido pra ela: - Paula! Não. Vá embora daqui! Ela sem entender nada insistia em pedir ajuda ao amigo. Esqueceu-se da blusa branca molhada e começou a sapatear implorando por ajuda. Ali, com seu amigo uma companhia estranha. Nunca tinha visto o tal que o acompanhava. O companheiro que estava com o seu amigo parou e olhou aquela cena. Percorreu os olhos pelo corpo bem delineado e molhado da menina, mas não quis dar muita atenção. Mandou-o dar logo o passe para o ônibus. E o amigo insistia para que ela fosse embora. Ela não entendia por que tanta estupidez. Afinal de contas no mínimo uma visão privilegiada ele tinha quase que somente para ele. Eram amigos acima de tudo.
Enquanto o outro ordenava para dar o passe ele deu mais atenção à transparência da blusa da menina. Tirou a arma das costas do amigo dela, a escondeu nas suas e começou a conversar com ela todo insinuante. Isso mesmo, a pequena tinha se metido num assalto! Ela, sem graça não sabia se pela blusa, por ter interrompido uma situação tão importante, ou pelo medo que estava, começou a se afastar. Mas não podia se afastar muito, por que ela não queria que ele percebesse que ela vira a faca. Então resolveu tratar assunto com normalidade, mas com a devida distância. Pensou em se abraçar ao amigo, mas ficou com medo de colocá-lo numa situação mais complicada ainda. Pensou em sair dali correndo, mas não podia arriscar o amigo deixando-o ali. Poderia ser pior ainda. Então, meio que paralisada pelo predador ela ficou inerte, quase sem ação, somente respondendo suas perguntas monossilabicamente. Observando as atitudes do amigo ela percebeu que ele iria tramar algo. Resolveu começar a distrair o bandido. Nesse exato momento o amigo começou a pensar. Pensava em dar uma de herói, partir pra cima do bandido e ficar com a mocinha. Ele iria ser o assunto da escola por muito tempo. Mas se fosse só pra ficar com a Paulinha ele podia posar de vitima, ela teria pena dele e cuidaria dele por muito tempo. Despertando nela o instinto maternal. Era uma saída. Enquanto isso ele não agia e chuva insistia em cair. Aquele cenário começou a piorar. Raios e trovões, ventos fortes e chuva aumentando. Pensando que a coisa não poderia piorar, a água começou a subir a calçada bem na frente deles. Sair dali não seria fácil. O bueiro na frente deles começou a transbordar e voltar toda água que escorria.
Lembram-se do Titãs na década 80? Pois é, os bichos escrotos começaram a sair dos esgotos. Baratas para todos os lados. Os três olhando assustados para aquela cena. O assalto e os seios da mocinha ficaram em segundo plano. Pasme, o bandido começou a suar frio. Quando a primeira barata subiu o meio fio, ele não quis nem saber de chuva, blusinhas brancas e nem do dinheiro alheio. Saiu correndo gritando pela rua deixando os dois atônitos no ponto de ônibus.

domingo, 14 de setembro de 2008

Provocação!

Qual a diferença entre banheiro e toillete?

Ensaio sobre a lucidez

Ensaio sobre a lucidez
Domingo. Um dia que muita gente aguarda. Sossego, praia, férias, futebol, amigos reunidos no parque pra uma conversa ao sol que há muito não se via. Aqui ainda é inverno e o frio teima em ir. Domingo, além do futebol, é dia de cinema. Hoje me preparei para assistir Ensaio sobre a cegueira, do belíssimo texto de José Saramago. Sai do cinema e vim correndo pra casa pra escrever sobre o que vi. Li o livro e me apaixonei. Como não poderia ser diferente com os textos do Saramago. Diferente também não seria minha expectativa por um belíssimo filme. Afinal boas histórias podem se tornar bons filmes. Histórias ruins não. E estávamos falando de um projeto de Fernando Meireles. O mais americano dos cineastas brasileiros. Mas não é só por causa disso que o cara é bom. Ele é bom por que tem talento, não tem medo de cooperação e se entrega ao projeto. Além do que ser cineasta americano em inúmeras vezes é prerrogativa de compromisso com superficialidade.
Inevitável era a comparação entre filme e livro. Confesso que nos primeiros minutos de filme fique ali, pensado, poxa, faltou isso, faltou aquilo. Mas relaxei. O filme é bom por si só, não é necessário muletas. O texto é lindo. As inúmeras versões filosóficas e leituras das implicações sociais que esse tema possui já valem à pena. Mas o que importa é que o filme é daqueles que nos fazem ir pra casa pensando. O cara conseguiu mostrar na câmera como seria a visão de um cego! Não se trata de um trocadilho nem provocação barata. Mas percebe-se no filme como um cego percebe o mundo e como o mundo trata os que não possuem um dos sentidos. Aliás, a tônica do filme é bem essa. Como o mundo percebe você, como interage com você e como é percebido por ele. Sua interação com o outro, com o meio que o cerca e com suas questões morais. Afinal, foi nos tirado nesse tema, o mais básico dos sentidos. O mundo foi feito para os que vêm, andam de pé e ouvem. Se você não possuir um desses sentidos está fora do jogo. Voltando à questão criador e criatura, livro e filme. Quem é melhor? Primeiro essa coisa de mensurar tudo é uma grande bobagem. Culpa de Descartes, depois conto sobre isso. Segundo, não podemos enxergar o filme pela ótica do livro. São duas coisas muito diferentes. É tentar explicar Deus pela ciência. É tentar entender o amor pela lógica analítica cartesiana. São esferas diferentes sobre temas diferentes. O tempo do livro é diferente do cinema. No cinema o diretor dá a imagem ao que você pensa. Às vezes isso não te agrada. Normal. Você desenha seu personagem de olhos azuis. O diretor de pretos e por ai vai. O cinema é uma livre adaptação que parte de um princípio. Não é necessário que se transporte o livro literalmente para a tela. Liberdade de criação sobre o tema. Esse é o lema. Façam esse exercício quando virem um filme que veio de um livro. Percebam que o filme acresce ao livro. O livro não é uma obra em si mesmo. Ele está aberto a várias dimensões, assim como os filmes. Para mim, esse filme deu cor aos meus personagens, construiu um cenário para o hospital e deu luz a minha imaginação.
Separem o domingo para o cinema e vejam esse belo filme. Depois, se quiserem, dividam suas impressões aqui.

sexta-feira, 5 de setembro de 2008

As rugas do meu pai

Os grandes presentes que ganhei na vida foram conquistados, não posso dizer que foram ganhos, mas batalhados. Tenho alguns troféus. Minhas cicatrizes. Tenho orgulho delas, elas me forjaram. Sou o que sou por causa das minhas marcas. Algumas coisas, sim, eu ganhei de verdade, mas marcam com a mesma intensidade. São as minhas marcas do tempo. Quem me conhece de perto deve pensar que eu estou viajando, mas outro dia vi que meu pai me deixou um presente. Uma ruga. Meu pai me deu uma ruga, e isso me encheu de orgulho! Me fez estar mais perto dele. Fiquei feliz, por que afinal de contas, sou quase um homenzinho, como diz uma amiga paulistana. Tenho descoberto que as marcas, rugas, cicatrizes, internas e externas nos remetem a nossa história. Envelhecer é uma das coisas mágicas da vida, pena que não percebemos enquanto a vida corre. Viver com marcas, melhor ainda. Sinal que a você ela não passou incólume. A vida foi generosa. Ela te deu o tempo. Cedeu atenção a você para que você pudesse estar aqui. As marcas que ganhamos, internas ou externas ao nosso corpo e à nossa alma, ajudam-nos ser o que somos. Somos construídos cotidianamente. Querer se livrar disso é simplesmente querer deixar de viver. É viver como zumbis.

As rugas que meu pai me deixou são marcas profundas da alma. Agora, são marcas que carrego como espelho, na pele. Elas me fazer querer viver com mais intensidade, com mais profundidade. Descobrir o verdadeiro âmago das questões. Me fazem lembrar de onde vim, quais são as minhas origens e para onde eu quero ir. Também me ajudam a lembrar o que não quero. Repetir os erros do passado seria não dar valor a elas. Viver assim, com a história que construí faz parte do crescimento. Não passamos em brancas nuvens pela vida. Temos momentos felizes e outros nem tanto, mas prefiro carregar essas rugas que me saem no rosto do que viver como o astronauta que prefere estar no espaço e não envelhecer, enquanto seu irmão gêmeo aqui na terra, vive, sofre, ri, chora e morre, mas leva suas marcas assim como as deixa nos seus.

Feliz dia dos Pais.

terça-feira, 2 de setembro de 2008

Luz demais atrapalha

Então, cidade nova, vida nova. Depois de um ano em Brasília, minha querida Brasília vim desbravar o sul. To na terra dos gaudérios. Os grandes pampas gaúchos. Aportei por aqui numa sexta-feira nervosa. Daquelas movimentadas, trânsito, caos, buzinas. De repente me vi no meio de uma cidade. Foi aí que percebi que fazia tempo que não sabia o que era viver numa cidade. Vivi em Brasília por pouco mais de um ano. Tempo suficiente para nossas mentes cartesianas se adaptarem à lógica e à métrica da cidade planejada. Foi fácil. QRWS, Asa sul, Norte. QI 25. Dizendo assim parece que são endereços de prateleiras de bibliotecas, mas é nesses locais que moramos lá. Um dia um amigo me disse que em Brasília as pessoas não moram, são arquivadas. Verdade quer seja pelos endereços, ou pelos espaços, que são escassos numa cidade que não pode mais crescer. Mas enfim, o planalto central ficou pra trás. Agora os pampas. Meu novo desafio. A chegada em POA foi um mergulho direto no caos. Posso dizer, que ali naquele momento, passeando pelas ruas onde Quintana vira há tempos, senti uma coisa boa. Não sabia que estava com saudades daquelas cidades. Cidades com jeito de cidade, com centro da cidade, esquinas, becos, muros sujos, pixados, desordem, caos na ordem. Ah, que bom! Ganhei um pouco de escuridão no meio da minha luz. Começamos bem, eu e a cidade. Bons ventos vindos do sul.

terça-feira, 29 de julho de 2008

Identidade própria.

Segui um conselho do Jabor outro dia. Ele disse no rádio: vejam o filme Nome próprio. E teceu um belo texto em defesa do argumento do filme e principalmente da atriz. Como bom diretor de atores que foi defendeu a atriz com propriedade. Dou continuidade ao coro. Vejam Nome Próprio. É um filme que marca. Está além da questão de gostar ou não. É uma necessidade. Temos todos, seres humanos em busca de algo, que ver o filme. Camila, a protagonista é intensa, perdida e entregue. Assim como todos nós, mas Camila tirou o freio e se lançou no mundo sem se perguntar se sentiria dor das decepções que por ventura encontrasse. Sua busca era por si, pela busca de si mesma. O que ela mais queria era se encontrar. Ela começa sua busca por si no outro, assim como nós fazemos. Colocamos a culpa pela nossa felicidade, pelo nosso fracasso, pelo sucesso e por tudo mais no outro. Camila não é diferente. O que a diferencia de nós é a intensidade, por que Camila dá mais importância ao ser que ao ter. Mais sentir que ao viver. Viver com o sentido de busca pela vida e não pela busca do sentido. Camila vive na plenitude, com erros e acertos, mas com a busca sempre infinita. Camila tem sua meta traçada. Ela veio a esse mundo pra buscar quem é. Não para ser feliz, casar, ter filhos, construir casa, viajar... ela veio em busca de si. Acho que a busca de Camila é a busca de cada um de nós por nós mesmos. Perceber o que somos e o que queremos ser. Ser enquanto essência, e não como profissão, emprego ou status social. Outro dia fiz uma pergunta a um querido casal de amigos: - vocês mudaram muito a sua essência quando se perceberam como pessoa, um ser humano autônomo, quando tinham por volta de 7, 8 anos de idade? A resposta deles foi igual a minha. Não. Não mudamos. Todos nós mudamos os gostos, acrescentamos algumas coisas, retiramos alguns medos, mas a essência do ser continua inalterada. Continua intocada, incólume. Façam-se essa pergunta. Respondam a si mesmos. Descobri que essa minha essência estava jogada em um canto qualquer, esquecida, escondida pelo trabalho, projetos e anseios de uma vida confortável. Mas quando enfim, chegar o dia em que esses projetos estarão completos, o que me restará? Olharei para dentro e verei aquele mesmo garoto de 7 anos que descobriu que seus medos, anseios, desejos, são a base para a formação do que ele se tornou. E espero sinceramente que a minha essência esteja ainda inalterada e que tenha me ajudado a chegar aonde chegarei.

Vejam o filme, vale a pena. Aliás, eu adorei

domingo, 27 de julho de 2008

Almoço de Domingo

Domingo. Uns amam, outros odeiam. Mas não é um dia que podemos dizer ser uma quarta-feira qualquer. Quarta tem jeito de meio do caminho. Não é nem inicio nem fim da semana. Coisa esquisita. Feriado em quarta-feira só não é pior que feriado no domingo. Que já nasceu feriado. Foi Deus quem disse!

É aquela beleza. Familiada e os agregados, todos reunidos. Esses domingos me lembram aquela música do Titãs, Família - cachorro, gato, galinha... Eu sempre tive vontade de dar uma turbinada nesses almoços de domingo. Sair do churrasco, frango, macarrão. Mas num dá pra fazer um almoço de ação de graças americano nos nossos domingos, mas rola uma caprichada. Vamos de frango mesmo. Como não podia deixar de ser, assado. As mudanças devem ser lentas e graduais. Já ouviram isso? – Perguntem aos seus pais. Uma das minhas ex-namoradas comia somente frango como opção de carne. Tive que me virar pra sair do lugar comum. Tenho uma pequena coleção de receitas de frango, e confesso, adoro um bem feito.

Vamos fazer um frango assado pra 6 a 8 pessoas. Um frango de uns cinco quilos. Digamos que um desses é quase um peru. Mas assim é melhor. Peguemos a ave, já devidamente limpa e deixamos reservada em uma vasilha na geladeira. Precisaremos de ovos. De dez a doze ovos. Separamos as claras das gemas. Utilizaremos somente as claras. Bateremos antes do ponto de neve. Bater na mão, ok? Nada de batedeira. Isso influi diretamente no ponto que precisaremos atingir. Chegaremos a um ponto coeso, firme, mas sem ser em neve. Depois de batidas colocaremos duas mãos generosas de sal grosso nas claras. Depois disso colocaremos essa mistura envolvendo o frango. Isso mesmo. Envolveremos nossa ave nesse preparado de clara com sal grosso. O mesmo sal que usamos para salgar a carne do churrasco. Colocamos o bichinho no forno pré-aquecido a 200 graus e o deixamos lá por 45 minutos. Criar-se-á uma fina camada enrijecida da clara com o sal. Tire-o do forno e quebre suavemente a camada de sal com um martelo de amaciar carne. A pele deve estar dourada e bem fina. Toda a gordura do frango está na clara de ovos. Foi tudo absorvido pelo sal. Sirva com um purê de batatas doces. Faz-se da mesma maneira que o de batatas normais. Querem a receita? Batatas cozidas na água. Passe-as no amassador manual. Manteiga na panela em fogo baixo. Manteiga derretida passe a massa de batatas pela panela. Vá juntando aos poucos um pouco de leite desnatado e mexa sempre. Ao final, desligue o fogo e coloque salsinha desidratada e noz moscada. Darão um toque suave ao pire também três colheres de creme de leite. Uma dica também para esse prato é uma entrada com uma boa salada. Folhas de rúculas frescas e lavadas. Alfaces americanas e crespas. Folhas displicentemente rasgadas com as mãos. Tomatinhos cerejas cortados em cruz. Fatias finas de mangas e morangos. Caso queiram coloquem também bolinhas de mussarela de búfala. Eu gosto da minha salada somente com azeite. Mas se quiserem façam um molho de iogurte azedo. Fácil demais de fazer. Um iogurte desnatado. Sal, azeite, orégano, salsinha desidratada, misture tudo numa vasilha e pronto. Deve ficar um molho fino. Quase aguado mesmo.

Depois de um almoço de domingo desses até a segunda-feira fica boa. Bebida é água. Comida é pasto. Você tem fome de quê?

sexta-feira, 25 de julho de 2008

100 anos de paixão na solidão.

Uma amiga querida lendo um dos meus textos no Blog comentou: você deve colocar aqui aquela história dos cem anos do Galo que você viveu no USA. Pensei, é tem razão. O causo é bom. Mas pensei um tempo antes de me arriscar, afinal de contas nunca me meti a escrever sobre futebol, ainda mais com referencias como o mestre Armando Nogueira, Nelson Rodrigues - O Mestre Jedi e outros tantos, passando até por Chico Buarque. Assim, o risco é grande. Mas como esse mineiro aqui tem medo de pouca coisa. Vamo lá!

Essa é primeira vez. Como foi também meu Debut fora do país. Confesso, não morro de amores pela América do Tio Sam, mas minhas irmãs moram lá. Fui vê-las nas férias. Lembrei de levar comigo amarelinha da seleção, um dos símbolos mais reconhecidos mundialmente do nosso país. Pensei comigo, os brazucas têm fama de boa gente, se a coisa apertar por lá, boto a amarelinha e tenho passe livre pra qualquer canto. Mas aí, com a mala já pronta e fechada, lembrei do manto sagrado. A camisa do Glorioso. Para quem não conhece, o Galo. Ou com nome e sobrenome; Clube Atlético Mineiro. Não quis nem saber. Saí alguma coisa pro Galo entrar. Dito e feito. Tirei alguma coisa que nem lembro mais o que e entrou a camisa nove. Eternizada pelo ídolo Reinaldo, o Rei. Afinal de contas o Galo iria fazer 100 anos quando ainda estaria de férias na América.

Minha homenagem no dia do centenário foi vestir a camisa do Rei e sair desfilando com ela pela terra do surf. É, garota eu fui pra Califórnia. Nesse dia acordei e disse pra minha irmãzinha: hoje vamos tomar café da manhã na rua. Ela me olhou meio sonolenta e concordou, afinal foram 5 anos sem o Big Brother aqui. Devidamente vestido e pronto para bater pernas fomos nós. Depois do café, deixe-a no trabalho e comecei o desfile, parecia mais uma peregrinação. Fui a todos os lugares turísticos de Encinitas em um só dia. Até que me lembrei que havia uma loja de camisas de Soccer por lá. Nem pensei duas vezes. Fui lá. Quando entrei, camisas do mundo inteiro. Da Arábia, Egito, Austrália, os times mais famosos do mundo com e destaque para as seleções da Azurra e para Amarelinha. Um verdadeiro deleite. Dei uma circulada pelo local e cheguei no balconista. Perguntei pra ele se ele conhecia a camisa que eu estava vestindo. Ele com uma cara meio sem graça, mas com honestidade, disse que não. E comecei a contar a historia que esse time foi o primeiro campeão brasileiro de futebol, ou soccer, como queiram. Que naquele dia estava fazendo 100 anos da sua criação. Que era um dos times de futebol mais respeitados e queridos do Brasil. Que tinha uma torcida apaixonada e que nunca abandonava o time. Inclusive nos momentos mais difíceis. Por que era uma relação de amor do time com sua torcida. Até falei com ele: - abra o site da FIFA ai brow. Tem uma matéria citando os 100 anos do Galo. Ele abriu e viu o tamanho da importância do Clube. Me deu razão e mais atenção. Até por que eles acham que todos nós nascemos com a bola nos pés. Ganhei credibilidade e respeito do cara. Afinal de contas era um brasileiro falando de futebol. Para eles é a mesma coisa do Papa falando de Deus. No final da nossa conversa por que a essa altura ele percebeu que eu não iria comprar nada disse pra ele: Se você não tem uma camisa dessas aqui sua coleção está banguela. Saí de lá com a sensação de que havia nascido ali mais um atleticano. Quando esse gringo aportar por aqui com certeza irá ao Mineirão provar do rochedão e sentir o calor da massa atleticana.

quinta-feira, 24 de julho de 2008

A vingança das esposas traídas

Essa nova atitude da polícia dos estados do Brasil com a famigerada Lei Seca, tem tirado algumas megeras do armário. Houve dois casos que me chamaram bastante atenção. Um empresário falou com a esposa que iria para uma outra cidade a trabalho. Arrumou a malinha deu beijinho nas crianças, prometeu e presente e se foi. Mas na verdade ele foi para a gandaia com os amigos na mesma cidade onde reside, ou residia por que o que se seguiu é motivo mais que suficiente para o cara se mudar. Imagine que o coitado estava voltando bêbado pra casa dirigindo o seu carro e de repente, não mais que de repente, um poste desavisado e ainda por cima fora da faixa resolve atravessar a rua. Pelo menos se o danado do poste estivesse ficado com a luz acesa nosso pobre empresário o teria visto e desviaria, mesmo bebendo como bebeu. Resultado. A esposa ficou sabendo na delegacia que o marido ao invés de estar descansando o sono dos justos num hotel qualquer na cidade dita, estava na verdade no xadrez. Sabe o que ele mais implorou aos policiais? – Por favor não contem para a minha esposa! Prato cheio pros canas que adoram sacanear um pobre coitado. B.O. duplo. Na delegacia e em casa. Vai ver se a policia não foi chamada pra separar uma briga de casal na região.

A outra foi melhor. O cara saiu pra beber com os amigos. Os bares foram fechando, fechando e eles trocando de bar. Até que todos fecharam. Ao invés de irem pra casa foram tomar a saideira. Foram para num posto de conveniências. Para escapar das Blitz ele bebeu até de manhã, por que a essa hora não há razão de ter blitz na rua. Afinal, as pessoas deveriam ir para o trabalho e não voltar da gandaia, pensou nosso amigo. Resultado. Bateu o carro e pôs o pijama. Não é nome de filme. É sério. O cara bateu o carro, correu pra casa e se enfiou debaixo dos lençóis. A esposa deve, com razão, ter ficado muito puta e guardou mais essa. Mas pensou: essa num tarda. E não tardou mesmo. Pouco depois de o mancebo cair nos braços de Morfeu com seu álibi listrado de cor de burro fugido, a policia bate à porta para informar que haviam encontrado o carro do coitado todo batido. E perguntaram se houve roubo. Para quem? Para a esposa. Ela não pensou duas vezes. Entregou o banana de pijamas.

O melhor nesses dois casos foi a vingança das esposas. E detalhe, nem força elas fizeram pra tanto. O universo conspirou e os policiais trabalharam. Resultado; a casa caiu.

Agora maridos, namorados, amantes, noivos e compromissados de plantão. Enganar a esposa pra ir beber com os amigos da 7 pontos na carteira e multa de 995 paus. Se o cara for reincidente, divórcio. Ai a conta sai mesmo cara.

quarta-feira, 23 de julho de 2008

Alimento pro corpo e alma

Penne ao camarões e a açafrão.

Bom, como todo cozinheiro, se é posso ter a pretensão de assim me intitular, que aprendeu a fazer alguns quitutes à beira do fogão com a mãe, eu faço tudo meio de olho, sem medidas exatas. Minha mãe me diz que a cozinha é uma alquimia. E acho que a maior delas é você sentir quando as coisas darão certo na panela, sem medidas. Como se mensura uma pitada? Suas mãos são maiores que as minhas, com certeza.

Esse prato é típico do mediterrâneo, culinária que mais aprecio pela combinação de cores e sabores. Ali se juntou tudo, o velho continente, a terra, o mar e a Ásia. Esse prato é ideal para os dias quentes de verão.

Receita para duas pessoas.
Meio pacote de penne (Barilla de preferência)
300 g de camarões graúdos limpos e SEM CASCA (um dia conto essa)
Uma pitada generosa de açafrão em pó.
200 g de ervilhas tortas
Manteiga
Sal
Noz moscada e pimenta do reino (moídas na hora)
Farinha de trigo (uma colher de sopa)
Dois copos de leite desnatado

Modo de fazer:
Coloque a massa na água quente depois de estar fervida. Coloque sal somente depois que a água ferver. Deixe a massa cozinhar por 10 minutos no máximo. Retire a massa al dente do fogo. Escorra e deixe esfriar.
Ferva os camarões também numa água já fervente com sal. Bastam de 5 a 7 minutos. Retire-os e deixe-os escorrer.
As ervilhas. Limpe-as e corte-as em pedaços de 2 cm mais ou menos, em diagonal. Coloque duas colheres de manteiga na panela, deixe derreter em fogo baixo. Junte uma pitada de pimenta do reino, uma pequena pitada de sal e passe-as na manteiga. De 3 a 5 minutos é o suficiente. Elas devem estar crocantes e pré-cozidas.
Vamos fazer o molho. Sabem o que é o roux? A palavrinha é francesa, então caprichem no sotaque e no biquinho. É a base de qualquer molho branco. Simples e rápido de fazer.
Deixe derreter duas colheres de chá de manteiga em fogo baixo.
Coloque o açafrão, pode ser uma colher de café cheia. Deixe vir a cor do açafrão. Quando ele estiver de cor bem viva, junte uma colher generosa de farinha de trigo na panela e mexa até virar uma massa compacta.

Em tempo, o roux é feito sem o açafrão, ok? Só colocamos o tempero ai para que ele seja puxado na sua cor e sabor.

Coloque um dos copos de leite desnatado e vá mexendo. A massa compacta será desfeita e o molho começará a tomar corpo. Caso seja necessário coloque o outro copo de leite. O molho deve ficar “aveludado”. Nem grosso como um creme e nem aguado como um caldo. Raspe um pedaço de noz moscada no molho continue mexendo. Junte a pimenta do reino. Continue a mexer. Adicione as ervilhas. Agora os camarões. E finalmente a massa. Deixe cozer por mais uns três minutos para que tudo chegue ao ponto pós Dente. (Eu prefiro assim)
Sirva com um bom vinho branco gelado ou uma champanhota.
Depois me contem se fez sucesso.

Como cozinha tem tudo a ver com arte, descobri um poema de Vinícius, o poetinha, que ele dá uma receita genial de feijoada. A mais pura expressão da arte. Feijoada é poesia e Vinícius mestre-cuca.

Feijoada à minha moda

Amiga Helena Sangirardi
Conforme um dia eu prometi
Onde, confesso que esqueci
E embora – perdoe – tão tarde

(Melhor do que nunca!) este poeta
Segundo manda a boa ética
Envia-lhe a receita (poética)
De sua feijoada completa.

Em atenção ao adiantado
Da hora em que abrimos o olho
O feijão deve, já catado
Nos esperar, feliz, de molho.

E a cozinheira, por respeito
À nossa mestria na arte
Já deve ter tacado peito
E preparado e posto à parte

Os elementos componentes
De um saboroso refogado
Tais: cebolas, tomates, dentes
De alho – e o que mais for azado

Tudo picado desde cedo
De feição a sempre evitar
Qualquer contato mais... vulgar
Às nossas nobres mãos de aedo

Enquanto nós, a dar uns toques
No que não nos seja a contento
Vigiaremos o cozimento
Tomando o nosso uísque on the rocks.

Uma vez cozido o feijão
(Umas quatro horas, fogo médio)
Nós, bocejando o nosso tédio
Nos chegaremos ao fogão

E em elegante curvatura:
Um pé adiante e o braço às costas
Provaremos a rica negrura
Por onde devem boiar postas

De carne-seca suculenta
Gordos paios, nédio toucinho
(Nunca orelhas de bacorinho
Que a tornam em excesso opulenta!)

E – atenção! – segredo modesto
Mas meu, no tocante à feijoada:
Uma língua fresca pelada
Posta a cozer com todo o resto.

Feito o quê, retire-se caroço
Bastante, que bem amassado
Junta-se ao belo refogado
De modo a ter-se um molho grosso

Que vai de volta ao caldeirão
No qual o poeta, em bom agouro
Deve esparzir folhas de louro
Com um gesto clássico e pagão.

Inútil dizer que, entrementes
Em chama à parte desta liça
Devem fritar, todas contentes
Lindas rodelas de lingüiça

Enquanto ao lado, em fogo brando
Desmilingüindo-se de gozo
Deve também se estar fritando
O torresminho delicioso

Em cuja gordura, de resto
(Melhor gordura nunca houve!)
Deve depois frigir a couve
Picada, em fogo alegre e presto.

Uma farofa? – tem seus dias...
Porém que seja na manteiga!
A laranja gelada, em fatias
(Seleta ou da Bahia) – e chega.

Só na última cozedura
Para levar à mesa, deixa-se
Cair um pouco da gordura
Da lingüiça na iguaria – e mexa-se.

Que prazer mais um corpo pede
Após comido um tal feijão?
– Evidentemente uma rede
E um gato para passar a mão...

Dever cumprido. Nunca é vã
A palavra de um poeta... – jamais!
Abraça-a, em Brillat-Savarin
O seu Vinicius de Moraes.

Petrópolis, 1962

terça-feira, 22 de julho de 2008

O número infinito

Os números sempre mexeram comigo. Do zero, que na verdade nunca entendi direito, só quando somavam na minha conta bancária, não pensem vocês que era pra direita, era pra esquerda mesmo, ao infinito. Podem imaginar representar o infinito em números? Pergunte aos garotos de 8 anos como fazem isso? Eu tentei nessa idade, depois desisti. Culpa de Descartes que sempre quis mensurar tudo. Uma vez, certo amigo me disse: Esses números e datas redondas servem, entre outras coisas, para fazermos balanço das nossas vidas. Concordo com ele. Já perceberam quando chega o fim do ano sempre nos preparamos e fazemos planos futuros? Por que estipulamos sempre o dia 31 de dezembro para fazermos nossos planos para o ano? Por que não no dia 10 de dezembro ou dia 15 de fevereiro, 24 de março, sei lá, uma data dessas qualquer. Afinal de contas a vida não começa no dia primeiro de janeiro e nem se finda em 31 de dezembro. Enfim, por essas e por outras resolvi fazer um balanço, acho que em boa hora das minhas oito ex-namoradas. Tenho 35 anos, a soma desses números é 8. Deve ser por isso.

Primeiro, acho que todo relacionamento que se preze tem que ter trilha sonora. No começo, no fim ou em momentos que te lembre a amada quando ela está longe. Ou quando você quer dizer algo, mas não encontra palavras. Ai a música entra e desempenha seu papel. Assim, cada uma delas recebeu uma musica de presente. Pode ser que elas não gostem, mas é a trilha que escolhi para o nosso namoro. Outras vezes é por causa de momentos marcantes na nossa vida juntos, ou somente por causa delas.

Quando tinha meus dezessete anos, me apaixonei pela primeira vez. E fui logo começando em alto estilo. Fui escolhido. Sim, minha primeira vez eu fui escolhido. Ela era um ano mais velha que eu. Nessa idade isso faz uma diferença bruta. Pra variar, era linda, especial. Todas foram. Para serem minhas namoradas tinham que ter uma única coisa em comum, serem especiais. E essa mocinha iniciou tudo. Foi ela quem deus os parâmetros e os paradigmas dos meus relacionamentos. Uma italianinha linda, de cabelos ruivos enormes até a cintura. Chama-se Laura. Linda figura e completamente diferente de tudo que já vira. Imagine uma criatura completamente avessa ao mundo que pertencíamos. Ela vivia com a cabeça não sei onde. Parecia sempre de férias num paraíso tropical e levava a vida assim, leve e sem pretensões. Foi ela que me ensinou o gosto pela arte e pela cultura. Certa vez me levou pra sua aula de filosofia. Era no cinema. Assistimos Teorema de Pasolini. Um choque, não o filme, mas quando eu podia imaginar que uma aula seria dada numa sala de cinema comercial? Genial isso, não? No inicio dos anos 90 era. Me encantei por esse mundo e nunca mais sai dele. Sempre me lembro dela quando vou a alguma exposição, “filme de arte” ou algo que nos remeta a experiências artísticas. Laura me deixou como legado a minha formação cultural e o gosto pelas artes. Mais que isso, me influenciou esteticamente. E me deixou também uma grande saudade, de um tempo feliz de adolescente e cheio de esperanças e fantasias. Iríamos casar e ter filhos. Foi a primeira vez que uma mulher me disse que gostaria de ter filhos comigo. Isso mexeu com um sentimento que não sabia que existia em mim. E ainda hoje me pergunto qual é. Sempre quando ouço Jovanotti, ou Gino Latino vejo Laura e eu numa pista de dança nas madrugadas de Belo Horizonte. Continue tocando Gino, continue dançando Laura.


O relacionamento com ela não poderia ter ido muito longe. Tinha acabado de descobrir que era atraente para as mulheres e isso mexeu com meu ego adolescente. Assim, por pouca coisa terminamos. Ela voltou pra Itália, casou-se e tem dois lindos bambini. Depois de Laura, Kátia. Katita. Essa sim mulher. Por que era sim uma mulher. 19 anos mais velha que eu, linda, cheirosa, mulher, me ensinou muita coisa na vida. E muito além da experiência sexual. A katita foi realmente experiência de vida. Mulher e batalhadora. Mulher linda e desejada por vários. E fui escolhido por ela, mais uma vez, escolhido. Penso que as mulheres se deixam ser fisgadas, E com seu enorme senso de altruísmo deixam a nós, pequenos homens pensarem que nós as conquistamos. Foi esse o caso com ela. Uma carioca linda, já com dois casamentos e um filho super bacana. Conheci a Kátia através de uma amiga e foi paixão, coisa de pele a primeira vista. Já sentiram arrepio na nuca só de olhar para alguém? Não? Então precisam viver isso. É mágico. É algo além do corpo físico. É mais que a malfadada química da paixão. Isso não se explica se vive. Katita me deu um monte de coisas, entre elas, me ensinou como viver com simplicidade. Era uma mulher que já tinha tido de tudo na vida. Foi muito rica. Casada com homens ricos que não entenderam o tesouro que tinham debaixo dos lençóis. Depois de descer pra perto do inferno, ela nunca perdeu o sorriso no rosto. Sempre feliz e com esperança. Sempre com amor para dar e disposta a receber pouco, somente sua atenção. Katita me deixou a simplicidade da vida e a crença nas pessoas. Quisera eu ter mais uns vinte anos a frente. Certa vez um amigo me confessou: a gente morria de inveja de você. Você com 17 anos era locutor de rádio e tinha uma namorada mais velha e com carro. Isso foi engraçado de ouvir. Como as pessoas fazem julgamentos através dos seus conceitos. Para mim, a Kátia foi algo muito maior. Foi uma mulher a quem chamei de namorada. Uma certa noite eu estava na casa dela e resolvi tomar um porre de vodka. Algum problema no trabalho ou coisa assim. Ela me ouviu a noite inteira e me pos pra ouvir Marillion e depois para cama. Nunca mais outra coisa me vem à cabeça que não ela quando ouço Marillion. Katita, Do you remember?

Recorrer a essas lembranças é as vezes prazeroso. Outras vezes, penoso. A diferença que se tem entre esses dois sentimentos é a sensação de ter se vivido tudo ou parcialmente com a amada. Foi isso que aconteceu entre mim e Flavinha. Eu já era bem mais experiente e alguns anos mais velho que ela. Ela era bailarina. As bailarinas mexem com o imaginário dos homens, sabiam disso? Lindas pernas ela tinha. Um sorriso largo fácil. O ar de criança que sempre foi presente na sua vida me encantava. Flavinha era meio Lolita. Um pouco mais vivida, é verdade, mas com ar de adolescente. Acho que não estava pronto para namorar. Ainda machucado pela partida de Laura da minha vida, não conseguia me fixar em ninguém. Só que estar com ela era tão prazeroso, tão bom, tão leve que não sentia vontade de ficar longe, ao contrario, sempre com vontade de ficar mais e mais perto. Resolvemos namorar. Fui uma vez repreendido por uma de suas tias que me disse: - Olha a Flavia num é das suas negas não! Tem que namorar certinho. Isso estragou tudo. Nunca reagi bem a esse tipo de pressão. Lido bem com qualquer tipo de pressão, mas na minha vida pessoal prefiro que ela não exista. Flavia foi tratada como uma verdadeira princesa. Acho que foi ai que errei. Perdemos o interesse súbito um no outro. Tivemos várias idas e vindas. Vivemos momentos distintos. Quando ela queria estar comigo, eu não a queria. O contrário também aconteceu várias vezes. Momentos de vidas completamente diferentes. Nunca nos encontramos verdadeiramente. Pena. Sinto que se tivéssemos realmente olhado para dentro de nós teríamos nos encontrado. Apesar disso, ela me ensinou o que é namorar de verdade. O companheirismo de quem namora. Aprendi com ela que não se namora somente com a amada, mas com a família toda. Essa era uma família deliciosa de se estar. Flavia era como o lago dos cisnes. Fazia sempre uma força enorme para ser leve. Quando ouço Chopin, ela flutua nos meus pensamentos.

Hiato. Longo hiato. Me retirei, precocemente para aparar as minhas dores de amor. Depois de longo e tenebroso inverno me achei. Juliana. Ou simplesmente Ju. Chamo nosso relacionamento de “Dois perdidos numa noite suja”, obrigado Plínio. Não nos encontramos numa noite suja. Mas na borda da piscina. Era ela minha professora de natação. Era tudo que me restava. Foi uma época punk, como costumo dizer, na minha vida. Sem emprego, sem grana, sem perspectivas. Tive que parar a faculdade. Estava completamente sem visão do futuro. Pensava que havia feito as escolhas erradas. Aí, descubro a minha salva-vidas. A Ju me salvou de algo pior. Me deu mais fôlego pra continuar. Nos agarramos um no outro como se fossemos a bóia de salvação de um barco a pique. Ela havia sofrido muito com o término de um relacionamento recente e bastante traumático. Eu precisava dela e ela de mim. Ficamos juntos durante um ano. Foi um divisor de águas. Mais maduro, mas machucado, percebi que não bastava o amor e a vontade para se fazer na vida. Descobri, quando ela me deixou, que quem nós amamos pode nos causar muita dor. Incoerente isso ainda hoje pra mim. Como alguém que nós amamos pode nos machucar tanto? Sentimentos incoerentes. Demorei mais um tempo enorme para tirar a Ju do meu coração. E ainda não saiu, nem ela, nem nenhuma delas. Possuem agora um espaço de carinho e gratidão. A Ju, no meio dessa loucura toda conseguia ter momentos de extremo amor por mim e de extrema leveza. Tem uma bandinha de rock de menininha, que costumo denominar seus pares, que ela adorava. Foo Fighters. Os caras não são lá grande coisa, mas a Ju nunca desistiu de lutar. Teve uma vez que ela terminou comigo e depois foi me procurar. Lutou por mim. Eu sabia que era questão de tempo de ela terminar comigo novamente se voltássemos. Decidi por um fim ali. Foi sofrido. Mas a Ju nunca desistiu de lutar pela felicidade dela. Aprendemos isso um com o outro.

Dessa vez não houve hiato. Fui logo emendando um namoro no outro. Agora coisa inédita. Arrumei uma namorada pela internet!!! Acreditem, em sala de bate-papo. Acho que todos nós com trinta e poucos fizemos isso na época em que a rede estourou por essas bandas. Um dia, estava num desses chats e comecei a conversar com uma certa princesa. Quando perguntei como ela era, por que não tínhamos as facilidades de trocar imagens como fazemos hoje, ela me disse, loira, olhos azuis, alta. Eu disse a mim mesmo. Na internet podemos ser quem nós quisermos. Coitada. Deixei pra lá. No dia seguinte ela me achou novamente. Trocamos e-mails, depois, mais tarde uns beijos carinhosos. Ela era filha de coronel da polícia! Imagina? Eu fui criado por uma mãe que perdeu vários amigos na ditadura militar e aprendi que com milico não se deve misturar me amarrando numa filha de milico? Nem a pau! Mas aqueles olhinhos azuis com aquelas madeixas loiras mexeram demais comigo. Não queria namorar, mas ela como boa cria militar me colocou na parede. Ou namora ou acaba aqui. Ta bom, eu namoro. Cedi à pressão. Ainda bem. Fui muito feliz com a Karina. Nos amamos muito. Sem pretensões, acho que fui muito importante na vida dela. Ela sem dúvida foi na minha. Aprendi com ela como conviver com diferenças. Ela não via preconceito em mim, eu bem moreno, queria mesmo era ser negão, mas o sangue italiano do meu pai não deixou isso acontecer, e ela com aquela coisa de sangue azul. Com essa minha mulatice a família dela já não gostava muito, imagina se fosse um africano de sangue puro? Ela me ensinou a ver além dos olhos, muito além da pele, dentro do coração e da alma. Fomos bem felizes, mas a diferenças, não de pele, mas de cultura eram realmente enormes. Isso foi nos afastando até percebermos que não estávamos mais juntos. Seguimos cada um para o seu canto. A trilha da Karina é o silencio contemplativo. Gostava de ficar olhando pra ela de maneira platônica. As vezes o silencio é o melhor companheiro.

De lá, saí direto para uma mulher um pouco mais madura. Acho que foi saudade do meu namoro com a Kátia, afinal, a Karina era muito mais nova que eu, e pensei que se estivesse ao lado de uma mulher mais madura, independente e resolvida eu seria mais feliz. Ledo engano. Me contem vocês, existe mulher bem resolvida? Essa provocação é para mim mesmo. A resposta eu sei, e não digo. Conheci a Selminha. Imaginem, essa mulher não dormia. Era uma pilha, namoramos um bom par de tempo, sempre muito bom. E ela me disse uma vez: cuide bem de mim, eu me doou muito para as pessoas que gosto. Isso aprendi com ela. Viva intensamente. Viva com toda dor e todo amor, afinal o poetinha mesmo disse que o amor só é bom se doer. Não existe amor meia boca, pela metade. A selminha, era assim. Uma espoleta, super elétrica, sempre pronta pra tudo. Pra balada, pra ficar em casa, pra viajar, pra se doar. A única coisa da Selminha que me deixava meio maluco era essa pilha dela pra tudo. Sabe que quando você se doa demais é por que não está prestando muita atenção em você mesmo. Acho que era caso dela. Ela prestava atenção demais nos outros, mas pouco em si mesma. O que faltava para mim nessa história era meu espaço. Quando começamos eu disse a ela em tom de aviso: Olha só, eu faço triathlon, por isso eu treino de manhã, de tarde e a noite. Preciso de tempo pra mim. Ela me disse que tudo bem. No início é sempre assim. Tudo é ótimo, lindo e tudo bem pra tudo. Sempre me acompanhava em treinos, provas e coisa e tal. Sempre super companheira. Mas teve uma hora que ela cansou dessa minha rotina chata de atleta amador. Rolou um surto, e pensei, é cara, fim. Mais uma vez.
Selminha tinha som para todas as horas. Um deles é Tuck&Patty. Um dos raros momentos em que ela sossegava no sofá. Ficou marcado na minha mente a exceção.

Nessa altura da vida, já não era mais um garotinho. Os relacionamentos não davam espaços para muitos erros. A pressão do casamento começava a pesar sobre meus ombros. Mas nunca me achei pronto para isso. Ainda mais que essa história de casamentos fracassados na minha família. Acho que é coisa de genética. Meu avô separou da minha avó. Minha mãe do meu pai, e a seguir o curso natural desse rio, prefiro ficar solteiro. Essa historia de casamento vale um adendo. Meus amigos todos casaram-se, ou juntaram-se. Enfim, game over para todos eles. Eu, o solteiro e o mais velho da turma que restou. E sempre me diziam, principalmente a mãe desses meus queridos amigos, você é o próximo. Eu ouvi uma piada e adotei. Havia um cara na mesma situação em que eu. Ai um dia, a mãe de um desses amigos morreu, e ele não perdeu tempo. Disse às que restaram, uma a uma: - A próxima é a senhora não é? Bom, nunca mais me encheram com essa história.

Comecei a namorar a Dani. Imaginem duas pessoas completamente diferentes em gostos e conceitos. Mas a atração foi forte. Ficamos juntos um bom tempo. Foi a namorada que mais lutou por mim. Tínhamos uns acordos muito bons. Como eu disse, o triathlon faz parte da minha vida. Ela odeia esporte, ao menos odiava. Então, eu não saia sexta à noite e ela saia. Eu treinava sábado pela manhã e ela dormia. Nos encontrávamos sempre. Mas respeitando o espaço um do outro. Isso ela me deu de presente. A gente era tão diferente que até na música era assim. Eu gosto tanto de música baiana como agulha em baixo da unha. Aliás, não sei o que me dói mais. Mas ela adora de verdade. Bom, então para a Dani. Chiclete com banana. Eca!!! Mas ela me deu esse respeito, o meu espaço. Podemos nos relacionar com uma pessoa por um longo período e ser diferente dela. Podemos conviver com as diferenças. Aliás, esse é um dos grandes segredos da vida. Não é sermos todos iguais, mas respeitar as diferenças. Aprendi muito com isso. As diferenças enriquecem tanto a gente. Não ficamos somente com um papinho intelectual ou somente sabendo da novela das 8. Olha o oito ai novamente...

Saí de BH. Fui morar em Campo Grande, Mato Grosso do Sul. Período de crescimento incontestável. Pessoal e profissional. Cheio de sonhos e anseios. Desejos e expectativas. Começava uma nova vida e tudo pra mim era lindo. Aliás, mais um adendo. É o céu mais bonito do Brasil. Uma coisa era certa. Eu não queria era arrumar uma namorada por lá. Por que sabia que minha passagem por lá seria exatamente isso. Uma passagem. Fui vivendo, conhecendo as pessoas, trabalhando, enfiando a cara na cultura local e achei um monte de gente bacana lá. Fiz grandes amigos, e no fim da história, uma namorada. Vocês podem pensar: - nossa esse cara é namorador hein?! Não achei que fosse, mas enfim. Acho que sou mesmo. Ou estou. Não sei qual a verdade nesse caso, mas não importa. Amani, o nome dela. Lindo né? Ela também. Imagina uma mulher linda. Ela é mais. Tivemos um relacionamento curto, mas intenso. Como eu morava só com um amigo, ela acabou por quase se mudar para minha casa. Em Campo Grande as pessoas se casam cedo. E para a idade dela já era tarde. Imaginem vocês, ela só tinha 27 aninhos e sentia uma pressão enorme por casar. Essa pressão foi parar nos meus ombros, e ai adivinhem o que aconteceu? Isso, terminamos. Pesado isso. Terminar por descobrir que não tínhamos um projeto em comum. Penso que quando os relacionamentos desgastam-se o que os segura é o projeto que os dois desejam construir juntos. Amani era muito intensa, meio menina meio mulher. Sempre me intrigou sua fragilidade e sua fortaleza. Ela transitava por esses dois mundos muito facilmente. Isso também me perturbava. Não sabia se ela precisava de colo ou se iria me pegar no colo. Depois de 16 anos do primeiro namoro me via confundido por uma mocinha. Ela tem um bom gosto raro. Uma inteligência única e, além disso, o mais importante. Aberta para experiências do mundo. Sem medo, ela caia de peito aberto em coisas novas. Ela me fascinava com isso. Adoro filosofia, essa, culpa da minha mãe. Um dia mandei um livro pra ela de presente: Mais Platão, menos Prozac. Quase meu namoro foi pro vinagre nessa hora, mas acho que a filosofia pode ter uma atitude prática. E ela gostou da parada e entendeu o senso da coisa. Tínhamos muito em comum. O gosto pelo esporte, pela boa música, boa mesa. Nos completávamos bem. Eu cozinhava e ela cuidava da apresentação dos pratos. Eu dava o clima e ela a trilha sonora. Por falar nisso, a som dela é Dave Matthews, e como não podia deixar de ser, eu adoro os caras. O que ela me deixou? Me deixou sem medo. Acho que casamento é um acontecimento. Acontece que você gosta tanto de fulano que não consegue viver mais sem ele. Ai resolvem passar o resto da vida juntos. Casamento não é um projeto de vida. Tipo; profissão: Esposa. Acho que se agora eu gostar muito de alguém como gostei dessas mocinhas num tenho mais medo de fazer o pacto de comunhão de bens. Dá-lhe Ben Jor!!!

Foram oito maravilhosas pessoas que namorei. Tivemos momentos únicos e fantásticos. Alguns ruins, mas o saldo sempre positivo. O oito é o número que representa o infinito. O nove o fim de um ciclo. Acho que o meu ta bem perto do fim. Sai melhor que entrei em todos esses relacionamentos. Graças a elas sou uma pessoa que somou com cada uma das suas qualidades. Fui feito delas. O que sou hoje devo a elas e mim, na mesma medida.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

Catando o feijão

Bom gente me rendi à tecnologia. Criei o danado do Blog. Vamo ver como isso rola. Preciso da ajuda de todos vocês. Sejam todos bem vindos. Suas críticas, sugestões e principalmente seus elogios serão super bem vindos. Esse espaço é dedicado às idéias que alimentam o corpo, alma e a mente. Mandem seus textos, imagens e todas as manifestações que saiam ai dessa cachola pra ca. Bjus nos coração de vcs.