sexta-feira, 5 de setembro de 2008

As rugas do meu pai

Os grandes presentes que ganhei na vida foram conquistados, não posso dizer que foram ganhos, mas batalhados. Tenho alguns troféus. Minhas cicatrizes. Tenho orgulho delas, elas me forjaram. Sou o que sou por causa das minhas marcas. Algumas coisas, sim, eu ganhei de verdade, mas marcam com a mesma intensidade. São as minhas marcas do tempo. Quem me conhece de perto deve pensar que eu estou viajando, mas outro dia vi que meu pai me deixou um presente. Uma ruga. Meu pai me deu uma ruga, e isso me encheu de orgulho! Me fez estar mais perto dele. Fiquei feliz, por que afinal de contas, sou quase um homenzinho, como diz uma amiga paulistana. Tenho descoberto que as marcas, rugas, cicatrizes, internas e externas nos remetem a nossa história. Envelhecer é uma das coisas mágicas da vida, pena que não percebemos enquanto a vida corre. Viver com marcas, melhor ainda. Sinal que a você ela não passou incólume. A vida foi generosa. Ela te deu o tempo. Cedeu atenção a você para que você pudesse estar aqui. As marcas que ganhamos, internas ou externas ao nosso corpo e à nossa alma, ajudam-nos ser o que somos. Somos construídos cotidianamente. Querer se livrar disso é simplesmente querer deixar de viver. É viver como zumbis.

As rugas que meu pai me deixou são marcas profundas da alma. Agora, são marcas que carrego como espelho, na pele. Elas me fazer querer viver com mais intensidade, com mais profundidade. Descobrir o verdadeiro âmago das questões. Me fazem lembrar de onde vim, quais são as minhas origens e para onde eu quero ir. Também me ajudam a lembrar o que não quero. Repetir os erros do passado seria não dar valor a elas. Viver assim, com a história que construí faz parte do crescimento. Não passamos em brancas nuvens pela vida. Temos momentos felizes e outros nem tanto, mas prefiro carregar essas rugas que me saem no rosto do que viver como o astronauta que prefere estar no espaço e não envelhecer, enquanto seu irmão gêmeo aqui na terra, vive, sofre, ri, chora e morre, mas leva suas marcas assim como as deixa nos seus.

Feliz dia dos Pais.

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