segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Tela branca.

Gostaria que re-começo fosse uma tela em branco, virgem, sem nunca ter sido tocada. Queria que re-começo fosse de peito aberto, franco, sem medo de se atirar no escuro. Escuro? Quem começa essa caminhada não sabe o que é escuro, simplesmente vai. Quem recomeça carrega na água da aquarela para que as cores não choquem mais. Quero um re-começo com cheiro do novo, sem reservas, se possível. Impossível? Não! Levar a vida assim cheia de soslaios é que dói. Não quero que as experiências anteriores se apaguem. Elas fazem parte mim, como minhas cicatrizes. Elas irão comigo onde eu for. Tenho orgulho delas. Faz parte do ser de hoje. Amanhã serão outras, que se somarão a essas até a linha de chegada. Como dizia aquela velha canção inglesa: Viva e deixe morrer. Afinal o que é a vida sem alguns arranhões? Começar como uma tela em branco não é opção, terminar sim. Prefiro a minha com as rasuras a devolver sem nada escrito. Afinal, existe melhor escola que os erros? Querer apagá-los é o pior possível.

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

O futuro e o amor.

Essa coisa de controle do tempo é bem recorrente na mente humana. Desde que o homem conseguiu essa sua capacidade de abstração ele segue pensando numa maneira de controlar as questões que o cercam, sejam mais ou menos abstratas. Não importa o homem sempre procura controlar essas questões. O tempo é uma delas. Primeiro conseguiu um jeito de mensurar o valor do tempo. Já se perguntaram que tempo é esse que existe dentro de uma hora? Por que a hora tem lá seus sessenta minutos? Com certeza algum de vocês assistiu um documentário no Discovery que põe a lupa no tema. Mas vamos lá. Vamos além. Tentamos viajar no tempo. Como não conseguimos estar presentes em vários lugares no mesmo tempo, dizemos que viajar no tempo e no espaço já pode ser considerado por causa das telecomunicações. Ou então, que a viagem no tempo se dá através de uma terceira dimensão, que não temos ainda a capacidade de abstração nem técnica pra isso. Meras desculpas pela falta de humildade do homem em admitir que não controlamos nem entendemos tudo a nossa volta.
O controle sobre o presente, o passado e o futuro fazem parte do imaginário do homem moderno. E quanto mais pós-moderno, mais presente. Aliás, mais passado, mais futuro. Afinal de contas, precisamos de tempo para trabalhar, malhar, sair com os amigos, ficar com a família, com a esposa, enfim, muita coisa; pouco tempo. Penso que essa vontade de sermos vários unos em diversos lugares em tempos distintos é dada pela impotência de não conseguirmos ser e ter tudo o que queremos. Claro que essa necessidade latente do homem é alimentada por um sentimento de vazio existencial que não o permite viver outras etapas da vida. Pra citar como exemplo, Camus, no seu A Peste, descreve a essência do homem. Nunca vi nada tão assertivo. Pra ele, o bicho homem é a idéia. O homem é um ser de idéia. E de idéia curta sem amor. Ou seja, visão limitada. Sem alcance. Mas o mais interessante é o alimento do amor. Ele descreve o alimento que transforma esse homem em um ser de idéia. E se me permitem a pretensão, concordo em gênero, número e grau com ele. O amor se alimenta de futuro. O amor se alimenta de planos pro futuro. O amor, pode-se assim dizer, se alimenta de esperança. O amor de homem e mulher, esse mais simples de entendermos, é assim constantemente. Quando se ama, se projeta o futuro com a amada. Como estaremos quando tivermos nossos filhos, quando tivermos nossos netos, nossa casa. Tudo isso serve de alimento pro amor. Falando do nosso amor por nós mesmo, que é um pouquinho mais delicado de entender. Quando fazemos projetos para o futuro, independente de com quem estaremos, mas por nós mesmo, estamos alimentando esse amor próprio. Isso nos nutre, nos faz caminhar, nos faz ver além do muro que cerca nossos olhos. Camus conseguiu colocar em palavras. Sam Mendes com imagens. No filme Foi apenas um sonho percebemos como o amor é alimento para nós e nós para o amor. Num ritual antropofágico onde quem alimenta é alimentado. Em troca a vida caminha a passos lentos ou curtos. Depende do tamanho do futuro que você projeta. Pode parecer abstrato demais em certo sentido, mas nada mais é do que o famoso conselho de nossas avós: é dando que se recebe. Leiam o livro, vejam o filme e plantem uma árvore.