segunda-feira, 13 de abril de 2009

Nome próprio

Minha avó anda meio preocupada com os netos, no caso, eu e minhas irmãs. Como muito católica que sempre foi, gostaria que todos seguissem o mesmo caminho. Mas minha mãe, com a autonomia que lhe foi concedida pela vida, decidiu que nós, os três filhos, teríamos a liberdade de escolha e não herdássemos a fé alheia. Ela dizia: escolher a religião de vocês eu não posso fazer. O nome, que é algo que não temos opção eu escolho, mas a fé é com o coração de vocês. E assim foi. Cada um de nós escolheu seu caminho ouvindo onde a fé toca seu coração. Mas me ficou na cabeça essa coisa do nome. Como é grande a responsabilidade de colocar o nome em alguém. Já perceberam a carga que trás um nome? O simbolismo que carrega cada um? Todos já ouvimos histórias escabrosas sobre nomes mais que estranhos. Quem não conhece, ou já ouviu falar de uma professora com o nome de Valgina? Sabiam que havia um deputado federal de não sei qual Estado chamado Hitler Mussolini? O que os pais dessas pessoas querem dizer com isso? Que a mulher acima é hiper-feminina? Que não se tenha dúvida da sua feminilidade? Que esse outro é um ser terrível? Quem de vocês colocaria o nome do seu filho de Hitler? Geralmente procuram-se nomes de santos, de heróis da antiguidade e ultimamente de atores ou personagens de filmes e novelas. Para que? Para que essas novas criaturinhas que virão recebam de alguma maneira as bênçãos desses que passaram por aqui. Que herdem seu sucesso e sua história de vitórias. Em outros casos, uma homenagem a pessoas queridas a nós. Que nos são muito caras. Já perceberam que existem ondas de nomes? Ou nomes da moda. Parece que as mães combinam que em determinada época os filhos terão nomes idênticos. E sempre na mesma faixa de idade. Particularmente eu hoje adoro meu nome. Claro que quando era criança não gostava. Era diferente dos meus amigos chamados Bruno, Leonardo, André. Eles claro, não recebiam apelidos oriundos dos nomes. E o meu era um prato cheio pras piadas. Mas como tudo na vida muda, hoje eu não queria outro nome. Ter um nome assim tão incomum faz parte da minha personalidade. Ajudou a construir a pessoa que sou hoje. Sempre ouço que meu nome é diferente, que nunca ouviram falar e via de regra perguntam: Arturo? Com H ou sem? Eu acho graça. Uma vez me disseram: vou chamar você de Arthur, ok? Eu disse: - Não! Vou te chamar de Rodrigo então, ok? Rogério! Minha mãe caprichou tanto e você vem com essa simplificação boba? Não vai rolar meu caro!
Numa das minhas aulas mais interessantes da graduação da comunicação, um dos nossos professores de filosofia, o Maldonado, ministrou duas aulas inteiras falando dos nomes. E o tamanho da carga que vem a reboque do nome escolhido. Um nome não é somente uma marca, uma diferenciação entre os seres humanos. O nome nos faz ser como somos. Abençoa-nos ou amaldiçoa-nos. Nos trás benesses. Não nascemos como uma página branca. Já temos uma história que vamos herdar e dar continuidade.

sexta-feira, 10 de abril de 2009

O Resultado da forma

Nesse nosso mundo de resultados, números, sobe e desce de balanços econômicos e financeiros, onde damos mais valia aos resultados, um detalhe, que pode não ser somente um pequeno detalhe, me veio ao pensamento. Temos dado toda a importância ao resultado final. Ao quanto alcançamos de nossas metas, ao quanto temos no banco, quanto tempo viveremos e deixamos num segundo plano a forma. Como vivemos, como conquistamos, como convivemos com o outro ao nosso lado. Essa crise que aí está, (prometi escrever de temas perenes eu sei, mas essa crise é somente um pano de fundo para algo mais relevante e ilustrará bem o que quero dividir com você, além do quê sofreremos sua influência por um longo tempo ainda) não é somente uma crise de números e quebras de bancos. Não sei nada de economia para falar das causas e dos efeitos dessa crise ou de outra qualquer, mas o que me preocupa nesse caso é a forma como chegamos aqui. Todos nós fomos, ou somos obrigados a atingir nossas metas, quaisquer sejam elas, pessoais ou profissionais, não importando os métodos para que esse ponto seja atingido. Para aqueles que questionam o mundo que o cerca, quando o resultado é atingido fica um vazio e começa o balanço pregresso do que foi feito para se chegar ao alvo. A partir daí sua caminhada aos passos do passado começa a tomar forma. E de maneira lenta e gradual algo incômodo vai tomando conta da sua alma. É o questionamento de como se chegou aonde chegou. Como se foi parar no ponto em que está. E mais que os resultados obtidos essa é a primeira pergunta que nos fazemos. A forma importa. O como chegamos, a forma como fizemos para chegarmos onde estamos é o que nos resta quando atingimos ou não nossa meta. O que isso tem haver conosco e com essa crise? Observem. As pessoas não eram levadas em conta antes da crise. Simplesmente tentávamos reduzir custos para obter o máximo de lucro. Com isso achatando os salários e dando condições insalubres para os trabalhadores, para que obtivéssemos o maior dos lucros. Agora, sem os empregos, as empresas percebem que as pessoas são importantes, nem que seja para continuar consumindo. Muito marxista para o seu gosto? Pergunte a dez economistas o livro que eles estão na cabeceira para entender essa crise? Com certeza os dez responderão o Capital de Marx. A valorização do ser humano passa pelo tratamento pela forma como nos damos. Não quero cair no rumo do sermão, mas se incluirmos a forma nas nossas metas de vida nos daríamos muito melhor do que estamos indo hoje.

domingo, 5 de abril de 2009

Chiclete com Banana.

Não meus amigos. Não me rendi ao Axé. Essa bandeira eu vou carregar sempre. Não gosto mesmo e pronto! Além de outras coisas produzidas com um péssimo hálito que faz o ar já bastante pesado ficar putrefato. Mas vamos á mais essa. Semana de primeiro de abril passou. E não me recordo de ver tantas matérias nos meios de comunicação sobre a mentira. Matérias de todos os calibres em meios de comunicação sérios e outros nem tanto. Reviraram a história da mentira. Confesso que não sei se é mesmo verdade. Contaram mentiras cabeludas e descabidas nos microfones das estações de rádio de norte a sul do país. Chamaram psicólogos pra interpretar por que as pessoas mentem. Quando mentem e pra quem mentem. Fizeram as escabrosas pegadinhas com políticos na TV, para que finalmente os flagrássemos em mentiras em cadeia nacional. Nada de novo até então, correto? Sim, os jornalistas viram sem dúvida nenhuma o genial filme “A montanha dos sete abutres” e o aplicaram direitinho em suas explanações sobre a mentira. Convidaram a audiência a compartilhar suas mentiras e dizer por que e quando isso ocorria. Por causa disso lembrei-me de um dos golpes que sofri certa vez. Há alguns bons 20 anos atrás ouvia as pessoas dizerem nas ruas que havia uma banda nova por ai. Vinda da Bahia estava revolucionando o mundo da musica brasileira. Fiquei muito empolgado com a novidade e fui atrás pra saber mais. Como a internet nem existia, fui atrás das emissoras de rádio procurar a tal novidade. A emissora em que ouvia constantemente, a finada e saudosa Rádio Terra em BH, não tocava a tal banda vinda da Bahia. A programação continuava a mesma. Os melhores do gênero rock e blues. Talvez o programador não houvesse recebido o disco de vinil que era entregue pessoalmente pelo pessoal da gravadora semanalmente. Ou talvez houvesse um motivo não explanado para os ouvintes. Mas certamente a Terra não ficaria de fora. E se fossem bons mesmo, a emissora apoiaria um show dos caras na capital das Minas. Finalmente achei o nome da banda; Chiclete com Banana. Ainda sem ouvir a música que eles faziam pensei: deve ser algo genial! Claro que eu conhecia a música Chiclete com Banana. Um samba rock que dizia que se misturaria à música americana se encontrasse contrapartida na terra do Tio Sam. Fiquei mais ávido ainda. Talvez estivéssemos nos rendendo a Wilson Simonal, Jorge Bem (bem antes do Bem Jor). Talvez estivéssemos reverenciando Tim Maia mais uma vez e teríamos algo novo, original, genial, fantástico e realmente com uma pegada de brasilidade que esses três ai conseguiram dar. Teríamos a continuidade de uma coisa muito boa no Brasil. Finalmente! Você pode imaginar o tamanho da minha decepção quando ouvi do que se tratava né? Me senti enganado,roubado, ludibriado, usurpado e passado pra trás. Tal qual nossos empregados no Congresso Nacional fazem conosco. Um ultraje sem fim! Roubaram de mim um desejo. Um sonho. Uma vontade de ver algo bom sendo produzido num lugar improvável. Se bem que a Bahia já foi berço de coisas muito fundamentais pra nossa vida. João, Caetano, Gil. Os já nem tão mais novos Novos Baianos, além do genial Glauber Rocha e suas inúmeras idéias na cabeça. E outros tantos nas mais variadas formas da arte. O pior de tudo é que ainda andam por ai, sem honrar seus antecessores. Engraçado como uma mentira de um passado tão remoto pode ainda estar tão presente na minha vida. Deve ser por que andam contando-a todo ano. E pior, não contam somente no dia primeiro de abril. E fazem questão de todo mundo ouvir.

sexta-feira, 3 de abril de 2009

A terceira margem do rio.

Sempre gostei desse título. É uma frase que remete a um lugar que não sabemos onde fica exatamente, mas sabemos bem onde encontramos. É mais ou menos por ali, entre a esquerda e a direita. Aquele pequeno lugar onde encontramos a calma dos nossos corações. Essa terceira visão implica em profundos desencontros da dicotomia a que estamos acostumados. Sempre dispostos aqui ou ali e isso implica em que tenhamos que estar contra a posição contrária da qual tomamos. Muito superficial pra minha pequena cachola. Nesses meus tempos de pampas muitas coisas aconteceram. Como a vida é uma caixinha de surpresas, e parece que a minha ainda vem com aqueles embrulhos enormes com laços de fita, surpresas foi o que não faltou aqui. Sempre uma atrás da outra. Claro que não era isso que tinha desenhado para mim. Quando cheguei pensei em estar mais tempo por aqui. Depois de uns dois invernos em Gramado, ou dois verões em Torres me sentiria pronto pra voltar à capital mundial do Galo (parafraseando Milton Neves). Mas o Mineirão me terá mais cedo que podíamos imaginar. Viver aqui tem sido muito bom, apesar ou por causa das agruras. Algumas coisas compensam as outras. Encontrei pessoas muito interessantes e pessoas nem tanto. Umas que merecem espaço no meu coração para muito tempo. Outras nem tempo. Voltando à dicotomia, vi que aqui, no lugar mais dual em que estive que encontrar o caminho do meio é o caminho. Pra se ter uma pequena idéia, fui inquirido por diversas vezes se eu era tricolor ou colorado aqui no sul. “Pois onde já se viu? Você tem que escolher entre um e outro”. Sem titubear e com o peito cheio de orgulho respondia que sou atleticano. Aqui tudo é GreNal ou CaJu. Ou tricolor ou colorado. Ou Caxias ou Juventude. Ou norte ou sul. Italiano ou alemão. Você está ou não. Ou melhor, tu estás ou não. O que trás uma luz interessante nessa história, pois, sempre há uma posição para se tomar. Sempre há uma opinião para dar. Mas sempre a favor ou contra. Nada além. O que me fazia pensar que sempre há mais que isso. O mundo caminhou muito desde a década de oitenta. As dualidades ficaram por lá. O mundo é muito mais complexo que ser ou não. Hoje o mundo está. E nunca mais será.
Imagine essa. No meio das crises se descobre como se podem encontrar caminhos mais delicados e perenes que o simples ato do tentar apagar de incêndios imediatos. Perceber que quando no meio do abandono é que sentimos quanto nós precisamos querer bem as pessoas e não somente sermos queridos. Perceber que ao invés de esperar ser recebido por alguém da terra, receber esse como se a terra fosse sua. Bem Roseano isso não? Como todo bom mineiro, Guimarães Rosa soube como ninguém encontrar o grande sertão nas maiores capitais do mundo. E foi aqui que descobri que ser dicotômico nada mais é que simplesmente ligar a letra A à B e se contentar com esse simples e primeiro sentido. Mas existe muita coisa no meio desse caminho, e por vezes, ao invés de se contentar com o óbvio déssemos uma pequena olhada ao nosso redor? Penso que isso nada mais é uma forma de reaprender a olhar o mundo.