segunda-feira, 23 de março de 2009

Saudades prematuras

Claro que sou adepto às facilidades da tecnologia dos tempos de hoje. Claro que gosto que gosto das facilidades da vida moderna. Notebooks, Blue Ray, GPS (como eu preciso de um aqui em Porto Alegre), e outras coisinhas que nos enchem cada vez mais de facilidade. Aliás, vale um parêntese; (todas essas coisinhas da tecnologia vêm solucionar os problemas que você não tinha antes delas). Não se trata de saudosismo barato, mas sinto falta de umas coisas que são bem caras para mim. As relações humanas estão cada vez mais frias, mais distantes, ou por estar aqui no sul, e por não pertencer a esse povo, sinto as coisas tão distantes? Em coisas básicas, simples, do quotidiano, percebo um vazio nas relações que chegam a ser tocantes. Uma das coisas que mais gosto de fazer é cortar o cabelo. Não que meu cabelinho precise de grandes cuidados, ou que tenha paixão por uma cabeleireira. Mas quando ia ao salão, ou melhor, à velha barbearia no bairro floresta em Belo Horizonte, onde esperava por 40 minutos para ser atendido cuidadosamente pelo “Seu” Antônio, entrava em contato com uma espécie de mundo que já não existe mais. Ali eu ouvia os casos de pescarias mais mentirosos e deliciosos que me lembro. Os três barbeiros se riam cada vez mais um do outro. E um corte de cabelos não era menor que 45 minutos por causa das pausas para as risadas ou desaforos corteses entre eles. Era um ponto de encontro de todos os personagens do bairro. Do vendedor de jogo de bicho, dos malandros de plantão, dos vizinhos do comércio ao lado, enfim toda sorte de pessoas que formavam aquela vizinhança conhecida por cada um que ali habitava. Sempre se sabia da saúde da esposa de um, de como ia o meu novo trabalho, por onde andavam meus amigos que não tinham ido cortar o cabelo na época de sempre. Sinto saudades irremediáveis desse meu passado. É um pouco cedo para uma pessoa de pouca idade como eu sentir saudades assim. Mas será que os tempos estão rápidos demais e com isso estamos antecipando as saudades futuras? Estava lendo uma entrevista do Maurício de Souza, pai da dentuça Mônica dos quadrinhos, onde ele justificava a criação da Mônica Jovem por que a infância tem terminado mais cedo. E ele tem toda razão. Isso é um caminho sem volta. Se acelerarmos esse processo, iremos impactar toda a cadeia que vem na seqüência. Teremos adolescentes mais cedo, adultos mais jovens e idosos também com pouca idade? Será que alguma dessas fases será mais longa para compensar outra que fora curta demais? Se isso acontecer essa saudade do passado recente será sempre mais presente. Mas será que daremos tempo de maturação correta de cada uma dessas fases? Será que teremos adultos na idade de ser adulto? “Seu” Antônio já se foi há algum tempo. Sinto falta mesmo é daqueles sábados pela manhã em que gastava quase duas horas dando boas risadas, comentando sobre a polêmica dos jogos de futebol de domingo. E ali havia uma intimidade que fora conquistada sem muito custo.

quarta-feira, 18 de março de 2009

Não sou quem me navega...

A vida é assim. Sempre. Uma surpresa atrás da outra. E penso que aí está a graça. O encanto do viver está nessas surpresas. Isso não quer dizer que a cada dia que saímos da cama encontraremos um cenário novo, uma vida nova a nossa espera. Não é isso. Temos vivido sempre nos furtando das novidades, das coisas que saem do rumo, dos trilhos. Programando nossa data de casar e ter filhos. Trabalhar em tal lugar, viajar para tal destino. Conhecer uma pessoa que caiba nos seus planos e assim ir levando nossa vidinha programada sem surpresas. Mas ai, um dia, o sol nasce do lado errado da sua cama e você é pego de calças curtas. Passamos a vida inteira, ou pelo menos a parte dela antes que as surpresas que mudem nossos planos, tentando evitar essas grandes guinadas. Penso que a graça da vida está em saber viver esses momentos de surpresas. E não digo somente diretamente boas, as que não parecem boas a curto prazo também. Claro que fazemos planos. E assim tem que ser. Os planos ocupam a concretude dos nossos sonhos e desejos. Planejar é a primeira etapa de fazer com que esses sonhos saiam da fase onírica e venham para a vida. Planejar faz bem, mas viver somente do planejado é sem graça. E como nós xingamos quando a nossa vidinha sem graça sai dos trilhos! Como achamos tudo uma droga e que nada dá certo pra gente! Tudo bem, até aceitamos alguma surpresinha ou outra na vida, mas nada que faça a gente sair do prumo, correto? A não ser que seja uma surpresa melhor que nosso plano. Aí sim, damos graças e pensamos como somos abençoados. Os mais egocêntricos ainda dirão: como sou foda! Se não fosse meu plano, isso não estaria acontecendo agora. E quando estoura essa mudança, invariavelmente não estamos preparados. Isso é uma grande verdade. Acostumamos-nos com nossa zona de conforto e vamos navegando ali até sermos sacudidos por uma onda. Pode ser que surja no meio dessa jornada uma tempestade, mas você não se preparou pra ela. Também pudera. Não dá pra ser neurótico e ficar desenhando todos os cenários possíveis. Mas dá pra se pensar em uma coisa, nos adaptarmos. Aceitar o que a vida nos dá de presente. Tirar o melhor dessas mudanças e viver a plenitude disso. A grande diferença em sofrer ou não está em tirarmos o que de melhor pudermos de cada pedacinho desse rio tortuoso, cheio de curvas, corredeiras, cachoeiras, remansos também pra que cheguemos ao mar melhores que quando embarcamos nessa viagem.

segunda-feira, 16 de março de 2009

Sou do mundo, sou Minas Gerais II

Essa coisa de procurar definições e rótulos pra tudo é mesmo um saco! O que eu escrevo aqui? Sempre fiz questão de chamar de “textos”. Não são crônicas do cotidiano, não são prosas. Algumas vezes ensaio um conto poético e em outras um poema sem estrofes. Mas não quero saber de rótulos. Quero continuar a escrever assim, com o coração nas pontas dos dedos. Sem me preocupar muito com o nome disso ou daquilo. Por isso mesmo me preservo a escrever coisas mais perenes que a volta de um ou ida de outro. Sorte e felicidade pra todos. Mas prefiro discutir mais a essência do homem que outra coisa.
Por isso, nesses tempos de modernidade sem fronteiras, ando rejeitando uns rótulos ou definições. Primeiramente um aparte a respeito da modernidade que vale à pena ressaltar. Modernidade sem fronteiras por que a modernidade não é tão moderna assim, ela tem mais ou menos uns duzentos anos. Ser moderno ta ficando velho, mas na falta de uma definição melhor vamos usando esse mesmo. Já ofereceram uns nomes meio repaginados, mas sempre preso ao mesmo conceito. Deve ser por isso que não mudamos o nome. Por que o conceito ainda é o da revolução industrial.
Mas voltando às pechas. Um dos rótulos que rejeito é o tal de cidadão do mundo. Coisa de gente moderninha isso né? Ou melhor, pós-moderna. Saí sim de trás das minhas montanhas. Sai pra ver o que o mundo tem além do horizonte recortado. Mas levo comigo sempre a minha essência. O meu tempero de ferro está no meu sangue. Quanto mais viajo, quanto mais percebo o mundo, pois, não é necessário esquecer as suas origens e negar de onde veio para se enxergar o mundo, mas ao contrário. O lugar de onde você veio dá o tom que você interpreta o mundo. Percebemos o mundo a nossa volta do nosso ponto do de vista. Sobre o nosso olhar. Do que somos feitos e moldados. Então, para mim, não existe essa de cidadão do mundo. Eu vejo o mundo sim, sem preconceitos, de braços abertos. Mas isso graças ao minério que corre nas minhas veias. Sou do mundo, sou Minas Gerais.

sábado, 7 de março de 2009

Mais o herói que nós mesmos.

Todas as vezes que desço da minha caverna para ver a cidade me espanto. Sinto-me renovado com minha perplexidade. Não sei se é por que essa terra não é a minha, mas continuo, apesar desse tempo passado, a olhar os pampas com olhar estrangeiro. Talvez seja isso, não me sinto parte daqui. Isso me traz algumas vantagens e muitas desvantagens. Mas o certo é que continuo a me encantar pelo cotidiano. Aqui no sul vive-se muito cada uma das estações do ano. Verão é época de felicidade. Quando o seu fim se aproxima, uma estranha nostalgia começa a contaminar as ruas. Uma espécie de saudade do que será visto somente ao final de um ano. Parece até que as águas de março inspiram a despedida nas pessoas que mostram ainda suas cores. As mulheres suas curvas, os homens suas marcas. E assim essa vitrine de quem brilha mais vai sendo recheada de tempos gastos em aeroportos, embaixadas, passeios nas praias do sul e do norte envolto às bolhas de espumantes do meio da tarde. Soa meio fútil? Bom, vocês deveriam ter presenciado as conversas de que eu fui testemunha. Mas um único elemento está presente em todas essas memórias, sejam do norte ou do sul. Do sol ou da neve. Vi-me perguntando, quando numa resistência quase heróica, tentava vencer o burburinho da calçada de sábado à tarde. O que se esconde atrás das lentes opacas, brilhantes, de cintilantes espelhos, envoltas nas grandes armações que nos emolduram a cara? O que esconde o olhar por de trás dessas máscaras. Parece que o carnaval veneziano desembarcou aqui e esqueceu-se de ir. As pessoas e suas máscaras, cada um vestindo seu personagem, escondem a sua alma, ao mesmo tempo em que essa nova forma assume seu lugar. E assim vamos nos escondendo atrás dessas grossas lentes vedando a janela da alma. Sim, eu acredito que os olhos dizem mais do que podemos encontrar nas palavras. Quando nos fechamos assim o que queremos dizer? Ao invés de um silêncio dos olhos percebo um eco retumbante sem resposta para a pergunta sem fim: Que alma tem aí? Que brilho tem essa vida ai por detrás? Ao invés da reposta, salta aos olhos um sentimento blasé, sem maior importância, com uma preguiça colossal do mundo à sua cerca. Cada uma das vezes que isso acontece vejo uma falta de oportunidade do que há de mais fantástico na humanidade; os encontros. Perdem-se oportunidades raras e valiosas quando vendamos nossos olhos ao outro e ao mundo. Ao nos escondermos por trás dessas lentes nos transformando em personagens heróicos que desenhamos na nossa cabecinha e deixamos pra trás a beleza ordinária da vida diária. Pra que? Pra viver de fantasia. Na verdade o mundo perde a oportunidade de testemunhar o quanto é belo e real o arrepio quando os olhares se cruzam.

quinta-feira, 5 de março de 2009

Déja Vu

Déja Vu. Sempre me ocorre quando acordo pela manhã. Sinto como se o dia de ontem não tivesse acabado. Nesses tempos novos, se é que podemos dizer que assim o são, tenho mais clara essa sensação. Os mesmos carnavais, Luiza Brunet continua sendo madrinha de bateria depois de mais de 15 anos. Mais do que um fato a ser ovacionado pela beleza e bela forma da jovem senhora, isso mostra a nossa pequena capacidade de nos re-invertamos. Os velhos heróis, são desenterrados como numa exumação de almas velhas numa tentativa desesperada de um fôlego a mais para esses moribundos. As piadas sobre a situação econômica, sobre a roubalheira dos políticos, continuam as mesmas. Aliás, eles continuam os mesmos. No nosso país, nós mesmos continuamos nos repetindo buscando incessantemente no passado algo que nos reconstrua de maneira diferente. Não procuramos re-inventar o país, estamos ainda tentando descobrir o que acontece conosco há dez anos. E essa sensação de repetição nos prolonga o sentimento de familiaridade que temos com o passado e nos prende a ele como âncora sem revés. Quando digo assim pode parecer que somos um povo de brava memória e longas lembranças. Lembranças dos nossos grandes heróis, das nossas grandes marcas ou até dos nossos grandes fracassos como povo. Nada disso. Se assim fosse, lembraríamos de Darcy Ribeiro que nos deixou a lição que nós brasileiros precisamos descobrir o Brasil e depois, somente depois inventá-lo, para mais tarde reinventá-lo. Esse modelo que temos aí não é nosso, é emprestado. Importado. Made In o país da moda.
Com esses tempos dessa nova crise tenho me lembrado das duas em que vivi. Nasci no meio da primeira. 1973 a grande crise do petróleo que abalou o mundo inteiro, mudando para sempre o american way of life. Mudando? Os grandes rabos-de-peixe foram somente substituídos pelas grandes SUV’s de hoje. Bom, mas vi a crise de 80. No Brasil, vários planos cruzando pra lá e pra cá. Zeros caiam como milagrosos ministros da economia. Pareciam que eram nascidos das jaboticabeiras. Foi a década perdida, diziam alguns que surgiram na prosperidade dos 90. Então por que estamos a recuperando agora? As mesmas músicas, os mesmos ídolos. Temos até uma crise para nos deixar mais em casa! Mais uma vez, nos repetimos em modelos passados. Já que estamos em 90, continuemos. Parecia que dessa vez seriamos novos, realmente novos. Tecnologia nova, internet e computadores e mais uma vez nos repetimos. As mesmas doenças nas relações humanas. E pra variar, mais uma crise econômica. To meio cansado disso. Esses senhores controladores do mundo somente observam o passado e tentam fazer igual. Eles estão de parabéns. E nós também. Seguimos como um bando sonolento de carneirinhos a beira do precipício por não percebermos o mundo a nossa volta. Repetimos-nos da mesma maneira em que fizemos ontem, no ano passado, na década passada e na outra. Estamos sempre na mesma estrada e sem saber que estamos andando em círculos. Platão no seu mito da caverna dizia que nós vivemos da sombra e a verdadeira realidade está lá fora. Fora da caverna. Basta olharmos diferente para o mundo a nossa volta. Afinal não precisamos de nenhum esforço heróico e demasiadamente humano como dizia meu querido Nietzsche. Não precisamos inventar uma nova forma de apagar o que está ai para que criemos do zero algo realmente novo. Se somente olharmos o mundo de forma diferente já o teremos re-inventado de uma forma única, sem antes jamais visto.