sábado, 1 de novembro de 2008

Azul e vermelho

O verão traz além do calor a sensação de liberdade, liberalidade. Eu particularmente gosto do verão pelo sol, calor, o bom humor das pessoas, e claro da liberalidade. As mulheres são particularmente belas nessa época. É a primavera dos humanos. Os cheiros, as formas, as insinuações, as formas, novamente, as cores. Tudo se mostra novo de novo.

Certo verão, descobri por que se apaixonar e se desencantar tem a mesma medida. Imagine você, uma bela, de pele branca, clara como o sol, com os cabelos ruivos e de belos cachos, num belo vestido vermelho. Por favor, nada que faça menção àquele clichê dos anos oitenta, e, que por sua vez lembra a cena de Marilyn dos anos 60, até por que as ruivas nunca são modismo. Se apaixonar assim seria fácil, coração vazio, com sede de novos ares. Ela chegou insolente, dona do meu pequeno mundo e se instalou de vez. Quase menina, jeito de Lolita. Isso mexe com a gente rapaz! O coração embarcou de vez. Parece que tinha achado o que sempre procurava. Afinal toda paixão é assim. Engana até o mais sapiente.

No início, se ama como nunca. Como Vinícius sempre amou. Você acha que ela é sua Garota de Ipanema. E é. Vive-se na plenitude. Há entrega, compromisso, paixão, fulgor, e desejo que não tem mais fim. Ama-se na plenitude. Também, naquele vestido vermelho quem pode contra? Perde-se a cabeça veementemente, acha-se com verdade o coração. Que se confunde com o vermelho do vestido.

Na mesma medida em que vem o fulgor da paixão, ele se esvai quando há o terrível pedido do compromisso com o cotidiano. A paixão se torna obrigação, o amor em torpor e mais tarde, se tudo conspirar a favor, ou nesse caso contra, a dor.

Vivíamos mesmo um amor delicioso, daqueles gostosos, de verdade, com paixão, desejo, necessidade e vontade titânicos. Mas então ela resolve, em um simples ato, tomar conta das minhas pequenas, mas minhas intimidades.

Fraqueza minha, não sei magoar, nem dizer não, sem machucar. Foi ficando, se instalou. Confesso. No começo era coisa nova, coisa boa, que até então não experimentara. Mas foi ficando. Eu chegava em casa, depois de ouvir o danado do chefe na repartição e ela já estava lá. Não queria aquela lá, queria a outra de outrora, que era a namorada de vestido vermelho. O encanto parece que desbotara. Já não era mais vermelho.

Certo dia depois da repartição abri o armário de casa. E com quem me encontro marcando meus surrados paletós? O vestido vermelho. O encanto se foi, e no lugar dele o território marcado para dizer que aqui, além dos meus trapos, somente cabe um único vestido. O vermelho. Senti-me invadido. Como pode uma coisa dessas meu amigo? Um vestido e ainda por cima vermelho no meio dos meus trapos? Que isso camarada! Sou mineiro, daqueles da roça, que prefere caminhar léguas pra se chegar à venda do Nho ao invés de ir no lombo de mula que num se conhece. Imagina? Eu com uma dona na minha casa? E meus camaradas? O que iriam dizer? Ah não! Comigo ia ser diferente. Aqueles lá se entregaram às suas. Eu não. Estava decidido.

Pra minha sorte, por que meu santo não me abandona e, forte ele é muito, tinha a dona uma viagem. Até ajudei na passagem. E disse: até a volta meu anjo, te espero. Ela foi. Eu achei até que esperaria no início. Mas aí, no meu caminho tinha um vestido azul. Ai você já viu né camarada. Um vestido azul acompanhado de belos cabelos longos e finos de cor negra num há cristão, mulçumano, árabe, judeu, ateu que resista. E ai, no mesmo verão, tudo novo de novo. Só que agora tem um vestido azul no meio dos meus trapos. Onde já se viu uma coisa dessas meu camarada?

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