domingo, 4 de janeiro de 2009

Ensaio sobre a beleza

As madrugadas são assim, sem meios termos. Ou passamos nos sonhos ou acordados. E nada a fazer quando uma pergunta te sacode no meio da noite e te joga pra fora da cama. A pergunta não se cala até você resolver que precisa ser respondida. Às vezes, a pergunta se faz para puro e simples capricho da madrugada. Pois vocês dois sabem, você a madrugada, que a pergunta não será respondida de pronto. Na verdade trata-se de uma sacudida que você tem precisado levar. Sair desse ostracismo, levar um sapeca-iá-iá (adoro isso) da dona Madrugada. Afinal, é só quando estamos ali, no nosso leito, conosco é que somos profundamente e verdadeiramente sinceros. Nossos medos e desejos brotam de tal forma que se faz luz em plena noite.
Numa dessas fui açoitado por uma das questões mais fortes da vida. Da minha pelo menos. Onde está a beleza que sempre vi nas coisas? Onde foram parar as coisas belas que meu olhar sempre encontrava?
O belo está sempre ai. Debaixo dos nossos narizes e fazendo questão de ser visto e contemplado. Está aqui, disponível com todas as suas formas harmônicas e completas. A beleza está realmente aos olhos de quem está disponível para tê-la. Tenho procurado a minha antiga forma de ver a beleza desde que a perdi. Perdi por um capricho e perdi o mais caro para mim, a minha capacidade de enxergar o belo. Meu mundo ficou mais feio depois disso. Meu mundo ficou mais triste depois que se foi. Meu mundo está a cada dia mais sem cor. Segue num desbotar continuo e insano. Tento achar a beleza. Subo as montanhas, entro em comunhão com a natureza por um breve instante. Depois, assim como veio, se vai o sentido na brisa. Nada me contenta como completava antes. A imensidão do mar ficou vazia de repente. As cores opacas, até as palavras às vezes me parecem vazias. São poucas as que me fazem refúgio. O quotidiano, que antes me inspirava, agora é para mim menos que pano de fundo do cinza dia a dia.
A completude está em seus olhos. Sim, nos seus. Sim, percebo a harmonia de todas as formas e dos ornamentos da natureza, mas a plenitude do fruir somente votaria com os seus belos olhos ao meu redor. Esses seus olhos carregam a forma primeira de perceber meu mundo. Sem eles pouco se faz. Pouco se faz sentido.

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