domingo, 31 de outubro de 2010

Tinto gelado.

Chovia, fazia frio e ventava forte. Era noite. Era inicio de primavera. Fim de um longo, seco e duro inverno. Ele colocava o rosto pela janela na esperança de receber os pingos mais delicados que vinham torrencialmente em sua direção. Havia tempos que não recebera as languidas e frias gotas do céu. Em tempos outros, poderia ser amaldiçoada, mas agora era o que ele mais esperava. Esperava que as chuvas molhassem sua terra, os ventos derrubassem suas secas folhas e trouxessem de volta os pássaros que os deixaram da mesma forma e lugar. Foi quando quem ele esperava entrou pelo corredor escuro e deu a ele um longo abraço de forma que seus corações se uniram em compasso. Toques delicados se seguiram durante toda a noite. Sutilezas no olhar em movimentos simples que fizeram orvalhar naquela terra seca, mas arada, um sentindo mais amplo ao mesmo tempo profundo das suas sensações. Essas mesmas, as impressões divididas entre mais uma garrafa de vinho inebriaram ainda mais a percepção de que ali poderia retomar sua vida de algum ponto deixado no passado. Às vezes uma garrafa dura a noite toda, às vezes não. E às vezes noite é dura mais que o amanhecer. Era o que ele mais ansiava. Mas o que mais importava para ele nessa noite era ter a certeza de onde se tinham interrompido seus corações. Fugazes ou não, seus antigos sentimentos no passado não estavam mais vívidos. Ele não sabia se ela poderia perdoar sua intromissão no seu antigo mundo, que de certa forma era dele também. Para ele tratava-se de uma invasiva na sua vida, mas ele não resistira à sua excitante imprevisibilidade e disse a ela com todas as formas e forças que ele a desejara. E passaria por cima dos antigos preceitos para tê-la em seus braços em noites quentes, frias, chuvosas ou nevadas. Recebeu dela um pequeno presente, o seu tempo aos seus doces clamores, e como é próprio de homens, tentou achar lógica, sentido em tudo que dizia. Mas ela não cedeu aos seus encantos, não por enquanto, pois o que ele sentia ele não estava disposto a abrir mão, por mais que do outro lado nada viesse. Era muito mais que um simplesmente querer. Ele sabia que fazia sentindo estar ali, ele sabia que estava feliz de ter sua terra seca orvalhada por ela e que não iria abrir mão daquele sentimento por mais oco que pudesse ser a sua volta. Ele sabia que o espírito dela era livre. Que ela vivia o presente e que não criava perspectivas sobre o futuro, mas mesmo assim, com o improvável ao seu lado ele acreditava que podia tê-la. Por um motivo simples e torpe, mas que para ele fazia todo o sentido, seu re-encontro de segunda vista com ela foi cercado de belas luzes e músicas, e ali ele soube que nunca era tarde demais para vivê-la.

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