segunda-feira, 1 de novembro de 2010

Caixinha.

Algumas provocações nos trazem muito mais o progresso do que o simples incômodo. Fazem-nos pensar e re-pensar como e de que forma percebemos o mundo e nos colocamos frente a ele. Às vezes não são de pronto, de imediato momento que a luz se faz. O tempo, mais uma vez, se mostra mestre e sabedor da maturação do pensamento.
Foi num desses insights matutinos que percebi que havia uma provocação adormecida na minha mente e que percebi que era o tempo de tratá-la. A questão cartesiana voltava à tona. Sempre ela que me incomoda e me persegue como um cão sem dono. A questão era abnegar do fato de que as coisas da vida possuem seu lugar na forma de existir. Lutamos sempre, cotidianamente com força para encaixarmos as coisas nos seus devidos lugares. E a provocação que assumi foi, de retirar as coisas das caixinhas e deixar com que elas ocupassem seus espaços, lugares e tempos na vida. O conceito acima, “nos devidos lugares” era o tema em voga. Por que, fui indagado, uma pessoa tem ser e ser assim ou assado dessa forma sempre? Por que somos brasileiros, americanos, franceses ou uruguaios? Será que é por que somos seres humanos? E não estamos humanos? O estar seria melhor para o caso? De certo que sim. Seria a oportunidade real da negação do plano cartesiano. De que nós temos sempre nossas caixinhas prontas para nos receber e deixar nossos sentimentos ali colocados. Sempre nos lugarzinhos confortáveis em que nos acostumamos a deixá-los. Como numa gaveta de meias. Somente elas devem estar ali? Por quê? Para nos sentirmos mais confortáveis e seguros? Mas e as surpresas da vida? Vamos deixá-las de lado em função de um mero e simples modelo de conforto? As imprevisibilidades da vida são mais ricas que os confortos. (Essas comparações entre mais, menos, melhor ou pior também fazem parte do plano cartesiano, mas que será tratado mais tarde. Uma coisa de cada vez). E são essas surpresas que nos diz quem somos. Diferentemente de quando estamos no nosso mundo de conforto e aparentamos viver numa forma, perfeita e sem sombras. Por que temos que combinar as cores, as formas, as pessoas, os sentimentos e os sentidos?
Por isso me encantam os poetas. Seres de almas livres que transvestem as palavras, as formas e os sentidos e nos dão mais cores para apreciar.

Um comentário:

Unknown disse...

Eu gostaria de ter as palavras certas para expressar o sentimento que me foi causado pelo seu texto. Mas são tantas gavetas, tantas meias, tantas cores.... Tenho revirado tudo em meu armário, tentando me desfazer de coisas inúteis para dar espaço às coisas novas! Fácil não é, mas renovar faz bem à alma! Mesmo que seja uma meia de cada vez...rs!