quinta-feira, 30 de julho de 2009

Descobri quem mexeu no meu queijo!

Ainda não meus caros. Ainda não me rendi aos livros de auto-ajuda de qualquer tema. Muito rasos para a profundidade da alma e do essencial do humano para ser tratado como receita de bolo. Se for pra ler receitas, que sejam culinárias. Pelo menos o sabor e os resultados são mais garantidos. Mas voltando ao queijo. Quando morava na minha Campo Grande, ou Big Field, carinhosamente pelos que a amam, fiz uma dessas minhas viagens pelo Brasil, não sei pra onde e nem sei se foi a trabalho ou a lazer, mas sei que quando voltei tinham mexido no meu queijo, literalmente.
Quando saí de BH fiquei mais mineiro. Torci mais pro Galo, se é que isso é possível, as músicas do Clube da Esquina faziam mais sentido que nunca, os poemas de Drummond colocavam palavras nos meus sentimentos e sentidos. Até Roberto Drummond comecei a respeitar! A saudade e da nossa terra idealizada nos faz vê-la como a queremos. Uma das coisas que mais sentia falta era da culinária daqui de casa. Daqui de minas. Quando a saudade apertava demais, ia a um restaurante de comida mineira por lá. Na parede ao fundo do fogão a lenha havia uma foto famosa de um meu conhecido do pôr do sol de BH. Era a vista da serra do curral. Quando via essa imagem meu peito se enchia de lágrimas. Mas logo era calado pelo sabor do frango com quiabo que me lembrava a cozinha da minha avó. Numa dessas vindas a BH para matar a saudade do ar das montanhas levei um pedacinho delas comigo na bagagem. Sim, levei um pedacinho das montanhas de minas comigo. O legítimo queijo canastra. Oriundo de lá mesmo da linda serra da canastra. Dessa maneira, me sentia bem pertinho das minhas montanhas todas as manhãs, juntamente com o café fresco. E assim foi. Pedacinho por pedacinho, religiosamente todas as manhãs. Um pedacinho daquela iguaria pra alma por dia. Bom, viajei, deixei a chave de casa com uma querida amiga, a Fabi, e ela foi lá em casa cuidar das minhas plantas. E ver se estava tudo em ordem. Como toda mulher ordeira e mandona que é, foi dar uma dura na geladeira. Viu um pedaço de queijo que parecia velho, mofado e para checar sua dúvida, meteu o nariz no pote. O cheiro do queijo já bem curado não combinou com o seu sensível e delicado nariz. Ela não teve dúvidas. Lixo! Quando retornei da viagem ela me conta, que além de molhar as minhas plantas, arrumou melhor a casa. Por que a minha faxineira precisava aprender algumas coisas sobre arrumação e limpeza. Agradeci pela gentileza. Afinal, é uma amiga cuidadosa com os dela. E era bem possível que ela cuidasse assim das coisas dos que ela ama e considera no hall dos amigos. Fiquei bem feliz em pertencer. Na manhã seguinte, fui à geladeira, seco de vontade pelo meu canastra e para minha surpresa ele não estava mais lá. Foi um choque. Era como se tivessem calado Milton Nascimento no meio do seu mais alto falsete. Fiquei mudo. Sem reação. Sem entender o que acontecera. Meu canastra acabou? Bom, se a Fabi tivesse se rendido a ele, tudo bem. Quem não se renderia? Com muito jeito e meio sem graça resolvi perguntar se ela havia gostado do queijo. E ela me disse: - Eu? Joguei aquilo fora! Estava fedendo a geladeira. Ah! Entendi naquele momento a dor de Otello. Traído pela própria amiga. A quem confiara a chave da própria morada. Traído. Meus olhos se encheram de ira e de lágrimas. Sequei as lágrimas e molhei a garganta seca. E claro que depois desse momento a brincadeira com a Fabi por ela ter mexido no meu queijo ganhou as ruas e nossa roda de amigos. Ela ainda fica sem graça quando a história é contada. Experimentem. Vocês vão morrer de rir com a cara de sem graça dela por ter jogado o meu canastra fora. Ela não sabia, e não saberá tão cedo, quão boa é essa guloseima. Pois canastra mesmo, só mesmo aos pés da Dona Beja.

Um comentário:

Unknown disse...

Meu irmão, muito legal o blog. Mande notícias. Abraço.
Rodrigo Borges