sexta-feira, 3 de abril de 2009

A terceira margem do rio.

Sempre gostei desse título. É uma frase que remete a um lugar que não sabemos onde fica exatamente, mas sabemos bem onde encontramos. É mais ou menos por ali, entre a esquerda e a direita. Aquele pequeno lugar onde encontramos a calma dos nossos corações. Essa terceira visão implica em profundos desencontros da dicotomia a que estamos acostumados. Sempre dispostos aqui ou ali e isso implica em que tenhamos que estar contra a posição contrária da qual tomamos. Muito superficial pra minha pequena cachola. Nesses meus tempos de pampas muitas coisas aconteceram. Como a vida é uma caixinha de surpresas, e parece que a minha ainda vem com aqueles embrulhos enormes com laços de fita, surpresas foi o que não faltou aqui. Sempre uma atrás da outra. Claro que não era isso que tinha desenhado para mim. Quando cheguei pensei em estar mais tempo por aqui. Depois de uns dois invernos em Gramado, ou dois verões em Torres me sentiria pronto pra voltar à capital mundial do Galo (parafraseando Milton Neves). Mas o Mineirão me terá mais cedo que podíamos imaginar. Viver aqui tem sido muito bom, apesar ou por causa das agruras. Algumas coisas compensam as outras. Encontrei pessoas muito interessantes e pessoas nem tanto. Umas que merecem espaço no meu coração para muito tempo. Outras nem tempo. Voltando à dicotomia, vi que aqui, no lugar mais dual em que estive que encontrar o caminho do meio é o caminho. Pra se ter uma pequena idéia, fui inquirido por diversas vezes se eu era tricolor ou colorado aqui no sul. “Pois onde já se viu? Você tem que escolher entre um e outro”. Sem titubear e com o peito cheio de orgulho respondia que sou atleticano. Aqui tudo é GreNal ou CaJu. Ou tricolor ou colorado. Ou Caxias ou Juventude. Ou norte ou sul. Italiano ou alemão. Você está ou não. Ou melhor, tu estás ou não. O que trás uma luz interessante nessa história, pois, sempre há uma posição para se tomar. Sempre há uma opinião para dar. Mas sempre a favor ou contra. Nada além. O que me fazia pensar que sempre há mais que isso. O mundo caminhou muito desde a década de oitenta. As dualidades ficaram por lá. O mundo é muito mais complexo que ser ou não. Hoje o mundo está. E nunca mais será.
Imagine essa. No meio das crises se descobre como se podem encontrar caminhos mais delicados e perenes que o simples ato do tentar apagar de incêndios imediatos. Perceber que quando no meio do abandono é que sentimos quanto nós precisamos querer bem as pessoas e não somente sermos queridos. Perceber que ao invés de esperar ser recebido por alguém da terra, receber esse como se a terra fosse sua. Bem Roseano isso não? Como todo bom mineiro, Guimarães Rosa soube como ninguém encontrar o grande sertão nas maiores capitais do mundo. E foi aqui que descobri que ser dicotômico nada mais é que simplesmente ligar a letra A à B e se contentar com esse simples e primeiro sentido. Mas existe muita coisa no meio desse caminho, e por vezes, ao invés de se contentar com o óbvio déssemos uma pequena olhada ao nosso redor? Penso que isso nada mais é uma forma de reaprender a olhar o mundo.

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