quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Carta a um Imperador

Ah, Marco Aurélio Antonino. Se soubesses como é dura vida dos de hoje que enxergam um pouco mais além do horizonte. Será que vós seríeis menos estóico ao viver o hoje? Meu caro Imperador. Hoje, por incrível que pareça damos mais valor ao viver em palácios do que estender a mão ao irmão. Aliás, não nos vemos como iguais. Enxergamo-nos não através das vestes, que hoje são mais adereçadas do que suas togas de seda, mas nelas.
Tivemos, em muitas áreas novidades, que nos permitiriam sermos mais solidários com nossos irmãos, mas em função da competitividade cada vez maior do mercado, não demos prioridade a isso. Sim, existe uma coisa chamada mercado. Ele nos diz o que fazer e como nos comportar. Não tem nada a ver com o pensamento filosófico nem ao menos religioso. Trata-se de motivo menos nobre que esses, simplesmente a aquisição de riqueza. Pois é esse mercado que determina quem tem mais e quem vale mais. E como as pessoas sempre querem mais e mais riquezas, as que não as possuem tentam de todas as maneiras, usando dos mais variados ardis para que essa riqueza vá para suas mãos. Mas o mercado, nem as riquezas, são coisas boas ou ruins. Nós homens que a fazemos assim. Por causa desse mesmo mercado, superamos muitos desafios colocados a nós e por nós. Vivemos mais e com mais prosperidade.
Não sou, de maneira alguma, um homem alheio ao meu tempo. Prefiro ser contemporâneo que sofrer com atrasos ou, na maioria dos casos, os adiantados da hora. Mas sinto falta desse seu reinado aqui para esse mundo. Os tempos têm sido duros mundo a fora. Só espero meu caro Marco, que essa dureza do mundo não me mude, não me deixe duro com ele assim como tem sido comigo. Um pouco estóico? Pode ser, mas prefiro a felicidade e a tranqüilidade da alma do que a truculência de atropelo aos meus iguais. A equação é simples. As diferenças existem somente no mundo das idéias, dos conceitos, do mundo imaterial. Se conseguirmos perceber as diferenças, por que não conviver com elas? Por que não aprender com elas?

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