segunda-feira, 22 de junho de 2009

Santo acompanhado

Quando nasci foi uma festa. Verdade, uma festa e tanto! Junina ainda por cima. Deixem-me explicar para não pensarem que meu ego é maior que é. Quando uma criança nasce é uma enorme alegria. Ela trás o sentimento de renovação, de recomeço, que tudo dali pra frente vai dar certo por causa daquela pequena criatura. Mas no meu caso, além de toda essa felicidade, eu fui o primeiro, neto, o primeiro filho. Então podem imaginar. Mas havia outro motivo para foguetório. Era dia de São João, 24 de junho. E como naquele tempo não havia muito essa coisa de programar os partos, meus pais ficaram sem saber quando eu chegaria e resolveram continuar levando a vida. Até que nesse dia de São João, meu pai convidou minha mãe para irem a uma festa junina. Minha mãe, como boa mineira e boa festeira não deixou pra menos. Foi logo aprontando uma fantasia de jeca. Uma jeca linda e grávida de nove meses. Ia ser a grande atração da festa. E lá foram se arrumando, meu pai com suas calças pega-frango e cheia de retalhos, camisa xadrez e chapéu de palha. Minha mãe com seu vestidinho de chita rendado e umas tranças improvisadas. Além do assessório que vinha na frente, eu naquela barriga enorme. Vestiram-se, maquiaram-se, e eu lá dentro sentindo toda agitação dos preparativos da festa. Os fogos começaram a arrebentar e a riscar o céu. A cada estouro o coração da minha mãe disparava e eu sentia uma alegria ali dentro que não cabia nela. Meu pai, como todo bom caipira resolveu levar sua pinguinha embaixo do braço para compor personagem. E de longe ficava acompanhando as pintas que nasciam no rosto da minha mãe juntamente com os sustos que ela tomava a cada foguete que subia. Ria-se todo! E eu lá dentro percebendo aquela excitação toda em torno da festa. Até que a curiosidade não me deixou ficar. Tinha que saber do se tratava, por que tanta felicidade, por que tantos corações disparados, por que o riso solto e fácil? Resolvi ir junto, mas de corpo presente. Nada mais de barriga em torno de mim. Queria era curtir a festa. Sentir de perto o calor da fogueira na noite fria de junho. O cheiro indelével da pipoca na manteiga que estoura na panela, os aromas de cravo que perfumam o quentão. Queria ser testemunha das cores vivas das espigas de milho assadas em brasa. Sentir meu coração disparar ao tocar do trio pé de serra. Resolvi que essa devia ser uma boa hora. Afinal era dia de festa. Que dia melhor para nascer? E assim, lá foram meus pais, vestidos de caipira correndo para o hospital para que se desse a entrada ao penetra de última hora na celebração de São João. Esqueceram-se de me avisar que um parto é realmente um parto. Quando foi dado o anúncio da minha chegada já era tarde. Não poderíamos ir mais à festa. Mas outra fora dada em seu lugar. Assim, entra ano e saí ano, todo dia 24 ainda devo uma ida a uma festa junina aos meus pais. A melhor festa junina de todos os tempos. Aquela que vi pelos risos soltos do meu pai e pelo coração da minha mãe.

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