segunda-feira, 8 de junho de 2009

Ode às paixões

Quando consegui finalmente encontrar o olhar dela no meio da multidão perdida de uma noite fria, encontrei também um sorriso que ascendeu às estrelas. Os seus olhos eram incógnitos. De cores incógnitas. Só percebi isso muito tempo mais tarde. Mas já devia saber que isso era sinal de alguma coisa. Não eram olhos de olhar de soslaio. Eram olhos de olhar direto e profundo. Seus tons variavam levemente de acordo com o tamanho da melancolia. Uma coisa não variava; a cor incandescente do cabelo. Era dela, vinha de dentro esse vermelho intenso. Essa intensidade que se refletia nos cabelos estava ali em algum lugar, intocada. Mas ela nunca me deixou chegar tão profundo. Restou a mim a melancolia e os tons dos olhos, a intensidade era guardada para quem ela quisesse. Foi assim, com essas evasivas que meus olhos se perderam nos olhos dela. Foi assim que me perdi dela. Certa feita, ela ia embora do quarto do hotel depois de uma visita pela madrugada. Avistei-a indo embora pelo corredor amanhecido, com o vestido levemente amassado, com os cabelos profundamente tocados e com os saltos numa das mãos e meus desejos na outra. O dançar das pernas em meio à fazenda me roubou mais que suspiros. De outra feita foram olhos escusos. Escondidos por trás de escuras lentes opacas nos encontramos no meio do caminho entre nossas janelas. Fomos fundo nas nossas almas. Naquele momento nos pertencemos eternamente. Seu coração tocado se emocionava através das cores amanhecidas do mar. O meu acompanhou como que se seguisse a sereia nas pedras. Perdi-me. Mas me pertenci profundamente.
Era nessas horas que percebia que valia a pena saltar do despenhadeiro sem se importar com a queda. Importante era o frescor do vento e de ver a paisagem de um ângulo só meu. Não que fosse inconseqüente ou gostasse do sofrimento. Mas fazia parte do pacote. Era como se fosse comprar um carro sem as rodas. Não existe por que e nem para quê. Então, melhor que fosse completa que pela metade. Viver uma coisa dessas assim pela metade e ficar só na entrada sem o prato principal. Um brinde a vida! À vida!

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