terça-feira, 5 de maio de 2009

A febre da vez.

Ah, mais uma crise internacional pra gente se preocupar. Agora paranóia é com a saúde. Será que dessa vez morre mais gente de gripe do que do dengue, malária ou alguma dessas nossas mazelas subtropicais que já viraram notícia velha no noticiário das oito? Bom, sei que dessa vez embarquei nessa. Não na paranóia, mas na gripe mesmo. Não na famosa gripe do porco. A minha poderia se chamar gripe do Galo. Meu time anda me deixando doente! Mas, exageros e brincadeiras a parte descobri o que me fez gripado dessa vez. Uma alergia daquelas. Cama no feriado inteiro acompanhado dos bons chazinhos e mimos da mamãe. Ah, por essas é bom estar de volta. Mas o que me atacou a alergia dessa vez foi passado. O passado me trouxe lembranças que me deixaram constipado. É um sentimento estranho acompanhar o envelhecimento de uma pessoa. Tenho visto minha mãe ganhar rugas, e algumas “macacoas” como ela mesma gosta de dizer. Mas também vejo a envelhecer através dos objetos guardados. Cada dia que passa ela guarda mais e mais coisas na sua vida. Além de objetos físicos, como papéis, fotos, caixinhas e objetos que pensamos que não servem para nada prático, ela tem colecionando uma boa quantidade de sentimentos. Vive sempre o presente dela claro, é uma mulher contemporânea. Até educada digitalmente ela é. E-mails e SMS para ela são coisas rotineiras. Orgulho de filho babão. Mas por mais que ela esteja assim, ligada ao tempo presente, vejo sempre o passado dela como companhia. Ela não tem lá uma idade muito avançada para os padrões de hoje. Mas percebo além da saudade de um tempo que não volta mais, atitudes antigas, arraigadas ao longo de muitos anos e que hoje me levam numa divertida volta ao seu passado. Quando cheguei de volta aqui comecei a perceber como a casa dela funcionava agora, pois hoje sou um hóspede por tempo ainda não sabido, mas determinado. E assim fui observando a rotina dela e da casa e tentando encontrar um pequeno espaço que me coubesse nesse mundo particular que ela criou depois da revoada dos filhos. Os detalhes fazem a diferença nesse caso e um dia, em cima do fogão havia uma panela cheia d’água. No outro dia também. No seguinte a mesma coisa. E comecei a observar aquilo. Nada para cozimento. Nada de molho. Apenas uma chaleira com água sobre o fogão. E comecei a me questionar que hábito era aquele. Pois, por mais que se alterasse de vasilhame a água estava sempre presente numa das bocas do fogão. Lembrei da casa da minha avó. Onde há muito havia um fogão à lenha na cozinha. Onde havia sempre uma chaleira com água e o fogo aceso. Pronto para passar um cafezinho para uma visita sem aviso prévio. E desse jeito, ela vem trazendo lembranças há muito deixadas pro nosso tempo. Traz a minha avó, o fogão a lenha, a broa de fubá, o frango com quiabo, com ora-pro-nobis, traz a roupa quarada, o acordar com o cantar do galo. Enfim traz seu mundo, seu conforto aos dias de hoje que finalmente são os seus. Não foi Galo nem o cheiro inconfundível dos guardados expostos que me deixaram doente. Foram as suas memórias. Ligar as saudades dela no meu presente. Foi a impossibilidade de viver um passado que não é meu, mas que me trás tanta saudade e me é tão familiar. Gosto muito dessa brincadeira de ligar o passado dela ao meu presente. Até por que esse tempo se confunde em nós, se funde em um. Mas o meu passado não tem o cheiro de lenha estalando no fogão. Nem a fumaça do chá de folha de laranjeira. Nem das mãos frias esquentadas na beira da fogueira acesa no mês de junho. O meu passado não tem ácaros nem esses cheiros de doces nos tachos de cobre, mas também pudera ele é digital. E o tempo é um presente que cada um de nós recebeu.

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