sábado, 29 de novembro de 2008

Tudo novo de novo.

Cheguei até aqui. Andei por esse caminho. Tortuoso caminho. Pedaço de longo chão sozinho. Mas cheguei até a encruzilhada. A escolha está aqui, bem na minha frente. Não sei o que vai dar em nenhuma delas. Mas estou pronto para decidir. Titubeio entre a direita e a esquerda. Às vezes quero seguir o caminho certo, o correto, o direito. Nada mais que normal em seguir à direita nesse caso. Mas meu lado Drummond me faz querer ser gauche na vida. Aí, a esquerda fala mais alto. Afinal, as melhores esquerdas, são as esquerdas... Somente quem sabe o frio na barriga que uma esquerda dá sabe como ela é. Não é a toa que a perna canhota do jogador de futebol é mais valorizada que a destra. Que a mulher canhota fascina mais que a outra. Isso tudo é um lapso que se passa na minha cabeça antes de decidir se vou à direita ou à esquerda. O engraçado é que será sempre a mesma pergunta independente do caminho que tome: - o que teria acontecido se eu tivesse virado a outra esquina. Nunca se vai saber. Mas não importa. O importante é tomar a direção. Ser minha a decisão e não ficar à mercê. O caminho, quando tomado não tem volta. Não podemos engatar a ré ou procurar um retorno. Nessa estrada o caminho é de mão única. A aposta é alta e a vida é curta.

quarta-feira, 26 de novembro de 2008

Eu acredito em gente!

Descobri isso faz um tempo. Eu acredito em gente. Gente viva, gente boa. Tem gente que acredita em duende, que Jesus voltará. Tem gente que acredita que ele nem veio! Eu acredito em gente. E mais, acredito que gente é pra brilhar e não pra morrer de fome, bala perdida, bêbados equilibristas atrás do volante e essas coisas que a cada dia nos choca menos. Sinto-me perplexo quando vejo no jornal que mais uma pessoa morreu em confronto com a polícia nos morros. A reportagem começa como um obituário, pesada, em marcha fúnebre pela tela. Mas quando iríamos nos somar a indignação do repórter ele justifica sua frieza: “a polícia acredita ser mais um traficante”. Isso me deixa ainda mais perplexo! Parece que se for para matar traficantes e bandidos tá tudo liberado! E nossa consciência moral aceita e trata isso como natural. Nada mais que um risco social a menos. Esse tipo de comportamento me deixa deverás preocupado. Está nas entrelinhas dessas ações que se você comete crimes é julgado severamente pela polícia, sem possibilidade de defesa e com a anuência da sociedade. Percebo que esses parâmetros são muito frágeis e podem ser mutáveis muito facilmente. Daqui a um tempo, de acordo com a ordem social vigente será assim: uma pessoa é morta pela polícia, mas era um desempregado, sem problemas. Outra é morta na porta de casa, mas era pobre, menos problema ainda: - Melhor para o coitado que está num lugar melhor. Outra, atravessando a esquina, mas não havia olhado o sinal. Quem mandou não olhar para quem via por ali? Então assim estamos justificados e quites com nossa consciência. Caetano já profetizava nos anos 70, gente é pra brilhar e eu concordo com ele.

sexta-feira, 14 de novembro de 2008

O rock finalmente envelheceu.

Numa noite linda dessas aqui do sul resolvi que iria num grande show de rock! Cara, uma semana se preparando, afinal de contas era uma mega banda de rock americana. Showzaço na certa! Contagem regressiva quando comprei o ingresso. Os dias iam passando, a semana rolando, mais um fim de semana, o mundo no seu compasso, a não ser por um presidente negro eleito na mesma terra dessa famosa banda de rock.
Dia do show. Tudo preparado. Um “esquenta” na casa de uma amiga. Alguns amigos reunidos e trajados para a ocasião. Calça jeans e um tênis velho. Uma camiseta e o espírito do bom e velho rock n’roll estava de volta. Chegamos ao estádio em cima da hora do show. Nos arrumamos num canto que dava pra ver a pontinha do palco e ficamos lá esticando o pescoço. Num desses descansos pro pescoço e olhei a volta. Comecei a perceber que o rock realmente tinha envelhecido. Não somente pelo público ali presente, mas comecei a perceber que o rock era pano de fundo para alguns sentimentos que hoje estão bem desgastados como as velhas calças jeans. No palco, manifestações políticas com a exibição orgulhosa de Obama feito presidente. Na platéia, alguns dedos em riste com sinal de paz e amor. Meninas nos ombros dos namorados, camisetas com dizeres políticos pragmáticos, beijos apaixonados no público. O cheiro da velha droga do rock inebriava o ar gelado da noite gaúcha, mas a maior presença era de uma aura de esperança e boa venturança no ar. Sentia que a cada acorde da velha formação, baixo, batera e guitarra as pessoas se comungavam num sentimento puro, os mesmos que se presenciava nos movimentos hippies de 50 anos atrás. Cabelos grisalhos e vozes roucas, no palco e na platéia, ascendiam as letras recheados de sentido que ecoavam pelo velho estádio de futebol. Percebi como esses sentimentos caíram em desuso. O bom e puro amor pelo outro deu lugar ao que vivemos hoje. São anseios antigos que ficaram pra trás. Entendi o verso de outra banda de rock, essa brasileira “...saudade de tudo que ainda não vi”.

sábado, 1 de novembro de 2008

Azul e vermelho

O verão traz além do calor a sensação de liberdade, liberalidade. Eu particularmente gosto do verão pelo sol, calor, o bom humor das pessoas, e claro da liberalidade. As mulheres são particularmente belas nessa época. É a primavera dos humanos. Os cheiros, as formas, as insinuações, as formas, novamente, as cores. Tudo se mostra novo de novo.

Certo verão, descobri por que se apaixonar e se desencantar tem a mesma medida. Imagine você, uma bela, de pele branca, clara como o sol, com os cabelos ruivos e de belos cachos, num belo vestido vermelho. Por favor, nada que faça menção àquele clichê dos anos oitenta, e, que por sua vez lembra a cena de Marilyn dos anos 60, até por que as ruivas nunca são modismo. Se apaixonar assim seria fácil, coração vazio, com sede de novos ares. Ela chegou insolente, dona do meu pequeno mundo e se instalou de vez. Quase menina, jeito de Lolita. Isso mexe com a gente rapaz! O coração embarcou de vez. Parece que tinha achado o que sempre procurava. Afinal toda paixão é assim. Engana até o mais sapiente.

No início, se ama como nunca. Como Vinícius sempre amou. Você acha que ela é sua Garota de Ipanema. E é. Vive-se na plenitude. Há entrega, compromisso, paixão, fulgor, e desejo que não tem mais fim. Ama-se na plenitude. Também, naquele vestido vermelho quem pode contra? Perde-se a cabeça veementemente, acha-se com verdade o coração. Que se confunde com o vermelho do vestido.

Na mesma medida em que vem o fulgor da paixão, ele se esvai quando há o terrível pedido do compromisso com o cotidiano. A paixão se torna obrigação, o amor em torpor e mais tarde, se tudo conspirar a favor, ou nesse caso contra, a dor.

Vivíamos mesmo um amor delicioso, daqueles gostosos, de verdade, com paixão, desejo, necessidade e vontade titânicos. Mas então ela resolve, em um simples ato, tomar conta das minhas pequenas, mas minhas intimidades.

Fraqueza minha, não sei magoar, nem dizer não, sem machucar. Foi ficando, se instalou. Confesso. No começo era coisa nova, coisa boa, que até então não experimentara. Mas foi ficando. Eu chegava em casa, depois de ouvir o danado do chefe na repartição e ela já estava lá. Não queria aquela lá, queria a outra de outrora, que era a namorada de vestido vermelho. O encanto parece que desbotara. Já não era mais vermelho.

Certo dia depois da repartição abri o armário de casa. E com quem me encontro marcando meus surrados paletós? O vestido vermelho. O encanto se foi, e no lugar dele o território marcado para dizer que aqui, além dos meus trapos, somente cabe um único vestido. O vermelho. Senti-me invadido. Como pode uma coisa dessas meu amigo? Um vestido e ainda por cima vermelho no meio dos meus trapos? Que isso camarada! Sou mineiro, daqueles da roça, que prefere caminhar léguas pra se chegar à venda do Nho ao invés de ir no lombo de mula que num se conhece. Imagina? Eu com uma dona na minha casa? E meus camaradas? O que iriam dizer? Ah não! Comigo ia ser diferente. Aqueles lá se entregaram às suas. Eu não. Estava decidido.

Pra minha sorte, por que meu santo não me abandona e, forte ele é muito, tinha a dona uma viagem. Até ajudei na passagem. E disse: até a volta meu anjo, te espero. Ela foi. Eu achei até que esperaria no início. Mas aí, no meu caminho tinha um vestido azul. Ai você já viu né camarada. Um vestido azul acompanhado de belos cabelos longos e finos de cor negra num há cristão, mulçumano, árabe, judeu, ateu que resista. E ai, no mesmo verão, tudo novo de novo. Só que agora tem um vestido azul no meio dos meus trapos. Onde já se viu uma coisa dessas meu camarada?